Ivan Turgueniev: “Pais e Filhos”. Abril. São Paulo, 1971

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Contemporâneo de Dostoievsky e de Tolstoi, Ivan Turguéniev é considerado um dos grandes romancistas russos. E o que me surpreende dos russos é sempre o mesmo. Os romances se iniciam com descrições do ambiente, do quadro de costumes imbuídos da moda afrancesada na Rússia Imperial. Tudo muito formal, muito superficial, onde as pessoas não têm nada que fazer –os nobres, se entende- e tudo se resume em festas, bailes e saraus. Pais e Filhos não é uma exceção. De um lado a frivolidade ao gosto francês, do outro o positivismo cientificista que parece renegar as formas, mas no fundo as cultua. Assim caminha o romance, até chegar ao terreno onde os russos têm verdadeira pegada: a psicologia dos sentimentos, que timidamente vão aparecendo nas páginas da obra, para se constituir no verdadeiro protagonista. Essa é a força da alma russa. Pais e Filhos, é considerada a obra mais importante do autor, acerca-se tangencialmente à questão do desequilíbrio entre as classes nobres e operárias –os mujiques trabalhadores- e desenha a figura do “niilista” (neologismo que parece ter sido inventado pelo autor) que encarna no protagonista. Um médico, criatura que se devota à ciência positiva, diz ser refratário aos convencionalismos e a todo tipo de sentimentos, mas no fundo é uma pessoa carente e infeliz. O recado russo chega, mais uma vez, no mesmo registro: abdicar dos sentimentos – abrir mão de amar e de deixar-se amar- amputa uma dimensão essencial do ser humano. Também por isso, é uma leitura que sempre aproveita.

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