Jose Morales: “Breve Historia del Concilio Vaticano II”

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Jose Morales: “Breve Historia del Concilio Vaticano II”. Rialp. Madrid. 2012. 188 pgs.

     Quando queremos informar-nos sobre um tema importante – as Guerras Mundiais, a História Contemporânea, um Concílio Ecumênico- a tentação é debruçar-se sobre um livro amplo que esgote o assunto. Não costuma ser a melhor estratégia, porque o excesso de informação costuma diluir a visão de conjunto e, no final, somos incapazes de resumir as linhas principais do nosso estudo. Não sabemos dizer, realmente, o que aprendemos. Por isso, gosto de livros como este onde de modo simples –mas com seriedade e profundidade histórica- esboçam-se as linhas principais do tema que queremos conhecer. Depois, demarcados os traços principais, é possível aprofundar.

     O tema aqui é o Concílio Vaticano II, um marco importantíssimo para entender a realidade da Igreja Católica nos dias atuais. O autor adverte que o Vaticano II foi um Concílio de Reforma. E esclarece o que venha a ser esta reforma, termo muitas vezes mal entendido. Copio textualmente: “Nenhuma outra sociedade que vive no tempo caminha na terra com a capacidade de reformar-se que tem a Igreja, que é a comunidade mais crítica e desconforme consigo mesma. Instituições e entes políticos, culturais e militares, nascem, se desenvolvem e, chegado certo momento, desaparecem sem deixar rasto. Não assim a Igreja, que recobra sempre sua juventude e vigor, graças, justamente, às reformas que efetua sobre si mesma pelo impulso criador do Espírito de Deus”

     Convocado pelo Papa João XXIII poucos meses após o início do seu Pontificado, e iniciado poucos meses antes da sua morte, o Vaticano II foi o Concílio de dois Papas: João XXIII que deu a largada, e Paulo VI que teve de desempenhar toda a corrida. Como o autor comenta: João XXIII tinha localizado uma jazida, mas foi dado a Paulo VI explorá-la.

     Foi, de fato, Paulo VI o grande protagonista do Vaticano II. Não o protagonismo de um solista, mas o do maestro da orquestra. Por considerar que levar a termo o Concílio era a missão primordial do seu pontificado, faz sentido o elevado conceito do Papado que tinha Paulo VI. Não por ser ele a desempenhar essa função, mas pela função em si. Comenta-se no livro que certo intelectual manifestou o desejo de escrever uma biografia dele e o Papa respondeu: “Para que? Eu, G.B. Montini não existo. Quem existe é Pedro. Montini não tem nenhum interesse.”

     No marco de um Concílio livre em que se falava da Igreja, Paulo VI adotou um papel diretivo e criativo, com uma intervenção permanente e respeitosa, tanto na forma com no fundo. O Concílio Vaticano II foi um Concílio de equilíbrio. Aquilo que alguns consideravam às vezes ambivalência do Papa, era na realidade uma expressão própria da tensão de situações onde era preciso levar em consideração certos elementos e fatores que, a primeira vista, pareciam difíceis de conciliar. Mesmo no exercício das suas prerrogativas e no modo de fazê-lo, Paulo VI sabia que devia conduzir-se com prudência e cautela.

     Eu que vivi adolescente os anos do chamado pós-concílio, posso dizer que essa prudência de Paulo VI nem sempre era interpretada corretamente. E mais de alguma vez tive de escutar, de fontes razoavelmente confiáveis, comentários que poderiam sugerir omissão ou contemporizar com os problemas ou até com o erro. Com a perspectiva dos anos, como bem aponta este livro, essa atitude surge com peculiar grandeza, própria de quem, esquecido de si mesmo, dedicou os anos de pontificado a fortalecer a Igreja e a recolher no seu seio os homens que buscavam sinceramente a verdade.

     Neste sentido, comentam-se as intervenções diretas do Papa Paulo VI na Lumen Gentium, quando se aborda o tema da Igreja, da colegialidade e da autoridade do Papa. Igualmente no relativo ao amor conjugal, quando ainda faltavam alguns anos para que desse mesmo Papa emanasse a Humanae Vitae.

     Finalmente na Dignitatis Humanae, sobre a liberdade religiosa, Paulo VI interveio pessoalmente para chegar a uma solução positiva e com esperança ecumênica, respeitando o valor da verdade e reconhecendo o direito que todo homem tem de procura-la com liberdade de consciência.

     Um pequeno grande livro, que desenha com propriedade os traços principais do Concílio Vaticano II, cujo espírito preside o caminhar da Igreja Católica nos tempos atuais, e de cujas fontes devem surgir os impulsos de reforma – pessoal e institucional. Acertadamente o autor anota: “Todas as reformas da Igreja, seja qual for a sua envergadura e projeção histórica, são como um êxodo das garras do terreno e carnal, e um movimento para a pátria definitiva”.

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