Joseph Pérez : La légende noire de l’Espagne

Pablo González BlascoLivros 1 Comments

Joseph Pérez : La légende noire de l’EspagneLibrairie Arthème Fayard, 2009,  246 págs.

Conheço o autor, de quem li uma excelente biografia do Cardeal Cisneros, e outra de Teresa de Ávila . Reconhecido historiador francês, filho de espanhóis, especialista no século XVI espanhol, conhecido como o século de ouro. Tropeçar com esta obra dele, ao alcance de um click, foi tentação à qual não quis resistir. Leio o original em francês, traduzo livremente, e anoto algumas ideias que já tenho baralhado neste espaço. Uma bela síntese, que complementa comentários anteriores sobre a Imperiofobia, e sobre a Globalização Espanhola.

Já na introdução, Pérez, assumindo a sua condição “espanhola”, vai direto ao ponto, em primeira pessoa: “A ideia que os estrangeiros têm de Espanha hoje é quase sempre negativa. Pior: na energia e no ardor que colocam para nos denegrir, às vezes encontramos ódio. Todos falam mal da Espanha hoje; muitos denigrem, menosprezam ou estigmatizam a Espanha de ontem. O que reforça essa tendência, além da má-fé, é que nós mesmos esquecemos nossa própria história”. Eis um recado repetido várias vezes: os espanhóis não somos alheios à lenda negra, porque nós mesmos acabamos assumindo.

Continua o historiador francês: “A mania de menosprezar nosso passado tem, creio eu, causas mais profundas. Quando algo hoje tem pouco valor – ou é considerado de pouco valor – a mente humana tende a rebaixar a ideia disso no passado também; inversamente, quando há grandeza no presente, a mente sempre tende a embelezar e ampliar seus inícios e até mesmo os estágios intermediários, por mais humildes e grosseiros que possam ter sido. Por exemplo, quem chamaria de gloriosa a triste revolução inglesa de 1688 se o Império Britânico não tivesse subsequentemente alcançado tal esplendor? Não me ocorreria contestar os méritos extraordinários de Shakespeare, apesar das suas extravagâncias e das suas monstruosidades, mas seria Shakespeare tão famoso, seria colocado ao lado de Homero ou de Dante se, em vez de ser inglês, fosse Polaco, Romeno ou Sueco?  (….) Por outro lado, quando um povo parece estar em declínio ou numa má inclinação, transmitimos à sua arte, à sua literatura, às suas produções científicas, à sua filosofia, um julgamento muito mais severo do que deveria ser. Um outro elemento caracteriza o que nos habituámos a designar como a lenda negra anti-espanhola: o complexo de inferioridade e frustração de alguns espanhóis, que acabaram por internalizar os elementos anteriores”.

O prelúdio à lenda negra arranca, no entender de Perez, dos ciúmes italianos. E assim o explica : “Não foi a Roma de Alexandre VI, mas a de Júlio II que, em 1510-1511, escandalizou Lutero – a prostituta da Babilônia. Por que então essa implacabilidade contra os Borgias? Porque as grandes famílias – os Medicis, os Della Rovere e outros – viam os espanhóis como intrusos; não só não eram italianos, mas também eram compatriotas daqueles aragoneses que, durante um século, dominaram o sul da Itália; eles nunca foram perdoados por sua ascensão, sua fortuna, sua arrogância. O saque de Roma, em 1527, acabou colocando a maioria dos italianos contra os espanhóis. Nunca, desde as invasões bárbaras, a capital da cristandade sofrera tais ultrajes. Não importa que o exército fosse comandado por um francês, que fosse composto por mercenários de toda a Europa e que os maiores contingentes fossem constituídos por alemães, maioritariamente luteranos. Para os italianos, foram os espanhóis que saquearam Roma e se comportaram como bárbaros. Os preconceitos contra os espanhóis são cada vez mais fortes. Como não podem ser derrotados, são ridicularizados”.

Outro capítulo de necessária abordagem é sobre os Habsburgos, a Casa de Áustria como os espanhóis a conhecemos: a linha sucessória após os Reis Católicos e a unificação de Espanha. “Em 1516, Carlos de Gante, filho mais velho de Joana a Louca e de Felipe o Belo (por tanto, neto dos Reis Católicos) recebeu a herança de quatro casas principescas: – a herança austríaca de seu avô paterno; – a herança borgonhesa da avó paterna: Holanda, Flandres, Artois; – a herança aragonesa do avô materno: Aragão, Catalunha, Valência, Baleares, Sicília, Sardenha, Nápoles; – a herança castelhana da avó materna: Castela propriamente dita, Galiza, Astúrias, País Basco, Navarra e Antilhas, bases do futuro império colonial. É enorme, mas não é suficiente para Carlos: ele também quer ser imperador como seu avô Maximiliano. E assim foi feito em 1519. Por que ele insistiu nisso? Certamente não pelos territórios envolvidos – um conjunto de possessões particulares, principados, senhorios e municípios autônomos de fato, senão por direito”. Esse é Carlos I da Espanha, Carlos V (da Alemanha), nome com o qual é conhecido na história. O Imperador, como se lhe conhece na Espanha, quem no final da vida, abdica no seu filho, Felipe II para retirar-se ao mosteiro de Yuste na Extremadura. Algo disso comentei nas linhas finais deste livro -muito espanhol, muito castelhano- da revolução que Carlos teve de enfrentar para entender que os caminhos do Império passavam necessariamente por Castela.

Pérez aponta sobrea a abdicação de Carlos: “A pesar de seu desejo, ele não poderia ceder ao filho nem a dignidade imperial nem os domínios patrimoniais dos Habsburgos na Alemanha e na Áustria: o ramo alemão de sua família se opôs. Por outro lado, Filipe II herdou os territórios milaneses e, em 1580, Portugal foi agregado a esta unidade territorial. Compreendemos as palavras de um contemporâneo, apavorado com este poder: Quando a Espanha se move, a terra estremece. Falar de um rei da Espanha é impróprio: não há Reino da Espanha, já que este soberano também reina sobre territórios situados fora da Península Ibérica. Sob Carlos V, dissemos “o imperador”, o que evitou qualquer ambiguidade. De Filipe II, assumimos o título que o Papa Alexandre VI havia dado a Fernando e Isabel em 1496: Rei Católico”

Um esclarecimento também necessário é que “os Habsburgos conduzem uma política que não está de acordo com os interesses da Espanha, mas com os da dinastia, uma política que se baseia em princípios claros: Em primeiro lugar, a solidariedade entre os Habsburgos de Madrid e os de Viena; depois o que  Carlos V repetiu muitas vezes: de modo algum procurou alargar os seus domínios; ele se limita a defender aqueles que lhe pertencem e a fazer valer seus direitos sobre aqueles de quem foi despojado”.

O que dizer, então, das guerras, das conquistas, e das ameaças que cercavam o maior império do mundo? Qual era o motivo? Escreve Pérez: “Claro que as disputas religiosas estiveram presentes nos conflitos da época, mas não foi a política que foi colocada a serviço da religião; foi a religião que foi usada para justificar essa política”. E acrescenta: “Sob o reinado de Filipe II, a Espanha manteve o controle dos mares. Estima-se que mais de três mil navios cruzaram o Atlântico em ambas as direções entre 1555 e 1598. Cerca de duzentos teriam sido perdidos e, deste número, apenas quarenta foram tomados pelo inimigo, na maioria das vezes por terem se desviado. dos comboios. Ou seja, naufrágios teriam afetado 5% das embarcações, ataques de corsários pouco mais de 1%. A Espanha é, portanto, capaz de garantir efetivamente a proteção dos galeões americanos quando navegam em comboios; sob Filipe II, nenhuma frota indiana jamais caiu nas mãos do inimigo; tal catástrofe ocorrerá apenas uma vez, durante o reinado de Filipe IV. A preponderância espanhola verifica-se assim nos campos de batalha e nos mares”.

Uma preponderância que também é pauta no terreno econômico como sublinha o historiador: “Não se pode subestimar o papel desempenhado pela piastra espanhola na economia mundial até ao século XIX, papel comparável ao que hoje ocupa o dólar, exceto que a influência monetária da Espanha não se baseava então numa economia dinâmica como é o caso hoje dos Estados Unidos da América(…)A moeda espanhola é o ancestral do dólar americano, que assumiu suas principais características e até os símbolos: nas piastras foram desenhados os pilares de Hércules (estreito de Gibraltar) e uma fita que os envolvia com o lema de Carlos V: PLVS VLTRA. Esta fita tornou-se um S para os americanos e os Pilares de Hércules foram substituídos, primeiro, por duas barras, depois por uma única, sem dúvida para simplificar(…) Em muitos pontos, a situação dos Estados Unidos no século XX lembra a da Espanha no século XVI: meios consideráveis ​​são colocados a serviço de um ideal essencialmente conservador; ao mesmo tempo, os poderes em questão se expõem ao ódio e ao ciúme de seus amigos, assim como de seus inimigos. tanto no século XVI como no século XX, o país mais odiado é ao mesmo tempo o mais invejado e admirado.”.

No capítulo III, que é o núcleo da obra, Pérez entra de cheio na confecção de Lenda Negra. A inicia com uma advertência que poucos sabem “Curiosamente, a maioria dos historiadores caiu numa armadilha; opõem de bom grado um Filipe II inflexível a um Carlos V aberto a novas ideias, a amplitude de visão do pai à intransigência do filho. Nada poderia estar mais longe da verdade. Foi Carlos quem defendeu -por motivos políticos que, obviamente acabaram atingindo os religiosos- a unidade do Império. No entanto, é Filipe II quem passa por o mais ferrenho inimigo da Reforma Protestante por um simples motivo: a lenda negra nasceu da revolta dos Países Baixos; é dessa revolta que devemos partir se quisermos compreender seu significado e seu desenvolvimento”.

Seguem-se esclarecimentos em profusão: “Isso sugere que o problema não é principalmente religioso, mas político. Além disso, em dezembro de 1566, o duque de Alba declarou que iria combater rebeldes, não hereges, e o embaixador francês era da mesma opinião: não era uma questão de religião. Filipe II dificilmente poderia agir de outra forma; nenhum soberano teria tolerado uma recusa em reconhecer sua autoridade e aplicar suas ordenanças. O fato é que as questões religiosas rapidamente despertarão a paixão e inflamarão o conflito, convidando cada uma das partes a buscar aliados: os mendigos do lado dos príncipes protestantes, Filipe II do lado do papa”

A figura de Guilherme de Orange, ator principal no desenrolar da lenda negra é também estudada com detalhe: “Em 1561, Guilherme casou com Anne de Saxe, filha do Eleitor Maurice, um dos campeões da Reforma, mas ele próprio permaneceu católico. Foi somente em novembro de 1573, mais por convicção política do que religiosa, que ele se declarou abertamente calvinista. Os historiadores não retiveram nenhum dos ataques pessoais que Guilherme de Orange fez contra Filipe II: ele não era culpado de bigamia, incesto ou assassinato. Se o público em geral continua vendo nele o assassino de seu filho e herdeiro, o príncipe Don Carlos, é pelo prestígio da música de Verdi, mas esse boato não se baseia em nenhum elemento objetivo”

O tema da Inquisição é logicamente outro prato cheio da lenda negra. Explica Pérez: “Por mais de três séculos, Guilherme de Orange, seus informantes e seus seguidores conseguiram esconder o fato essencial: o Santo Ofício perseguia principalmente os judaizantes. Ao atacar a Inquisição, autores protestantes e Guilherme de Orange buscavam desacreditar uma instituição que, a seus olhos, ameaçava seus correligionários; o destino dos judeus os deixou indiferentes. E o apoio eventual de França de nada ajudou, visto que França era um país que – não esqueçamos – decidiu expulsar os judeus já em 1394, um século antes que a  Espanha”.

Quando se aborda o tema da Inquisição, nada melhor para desmascarar paixões e interesse ocultos que apresentar números reais, algo que Pérez também faz, após estudos feitos a consciência, e cita vários autores: “Ele dá os seguintes números: 340.592 vítimas, desde as origens (1480) até 1815, e fornece os seguintes detalhes: 31.913 indivíduos foram realmente queimados, 17.659 foram queimados em efígie, 291.021 foram reconciliados ou condenados a penas menores. Llorente acrescenta que a repressão foi particularmente severa durante o período de 1483-1498, quando Torquemada serviu como inquisidor geral; 8.800 vítimas teriam perecido na fogueira e 9.654 teriam sido submetidas a várias punições (…) Com relação às penas impostas, Contreras e Henningsen estimam que a pena de morte foi aprovada em 3,5% dos casos, mas apenas 1,8% dos condenados foram efetivamente executados; os outros teriam sido queimados em efígie. Ou seja, entre 1540 e 1700, oitocentas e dez pessoas foram executadas. Sabemos que as penas de morte eram muito numerosas antes de 1500 e que ainda eram poucas depois de 1700. É razoável, portanto, estimar em menos de dez mil as penas de morte seguidas de execução pronunciadas pela Inquisição ao longo de sua história”. E conclui: “Isso significa que, afinal de contas, a Inquisição espanhola foi apenas uma manifestação entre outras da intolerância característica da época das Guerras de Religião e que não há razão para persegui-la mais particularmente”.

A conquista de América e o massacre dos índios, outro elemento que nutre a lenda negra: “A apologia de Guilherme de Orange chega a afirmar que os espanhóis fizeram com que mais de vinte milhões de pessoas morressem miseravelmente.  O massacre de índios americanos completa as acusações contra a Espanha. Não foi a filantropia que despertou a indignação de Guilherme de Orange, mas o desejo de minar o poder de Filipe II. O argumento moral esconde uma intenção política. Os flamengos, povo de marinheiros e mercadores, ressentem-se do monopólio colonial da Espanha. Por volta de 1580, eles ainda não tinham meios para se opor a ela de forma eficaz. Foi o trabalho de Las Casas que inspirou Guilherme de Orange em 1580, como dizendo: Foi isso que os espanhóis fizeram na Índia; é isso que nos espera. Guilherme de Orange não diz mais nada. No geral, a tradução do relato de Las Casas é fiel ao original, com uma exceção, mas é significativa: cada vez que o autor usa a palavra cristão, se traduz por espanhol”.

E anota a contrapartida, com fontes nada suspeitas: “Voltaire questiona a extensão dos massacres atribuídos aos espanhóis; considera a história de Las Casas exagerada em mais de um lugar. Houve abusos dos conquistadores, claro, mas a Igreja e o Estado defenderam constantemente as populações indígenas. No mesmo ano (1777), em seu livro Os Incas, Marmontel denuncia o fanatismo e as atrocidades dos espanhóis, mas especifica que esses crimes foram cometidos por gente de saco e corda; se os habitantes eram maltratados, era contra a vontade dos soberanos: Sabemos que a vontade de Isabel, Fernando, Cardeal Cisneros, Carlos V era constantemente poupar os índios”.

E anota a modo de conclusão: “A história que agora aprendemos é aquela escrita pelos anglo-saxões, holandeses e franceses. O que resta hoje das acusações lançadas por Guilherme de Orange e os huguenotes contra a colonização espanhola? (…) O julgamento dos historiadores é mais nuançado. Preferiria conformar-se com a dos enciclopedistas franceses do século XVIII, que tinham poucas suspeitas de simpatia por uma Espanha que de bom grado descreviam como fanática e atrasada. Para esses filósofos, Las Casas exagerou muito; idealizou os índios; os conquistadores se comportaram como tiranos sanguinários e gananciosos, mas seus crimes foram perpetrados em violação da legislação que as autoridades coloniais trabalharam arduamente para promulgar e raramente foram capazes de fazer cumprir no terreno (…)A colonização europeia dos séculos 19 e 20 foi culpada de crimes semelhantes aos cometidos pelos espanhóis. A única diferença é que ela não encontrou um Las Casas para denunciá-la; deve-se admitir, de fato, que o protesto de André Gide, por exemplo, teve infinitamente menor eco”.

O que pensam os espanhóis de tudo isto? É algo que Pérez se pergunta e tenta responder, fazendo uma revisão a fundo, das tendências -liberais, monárquicas, absolutistas, europeizantes- dos próprios espanhóis. Um tema que não abordamos aqui por ser justamente isso, muito espanhol. É suficiente com traduzir dois parágrafos para ver uma das visões -apenas uma- dos liberais espanhóis: “A seu ver, a partir de certo ponto de sua história, a Espanha deu uma guinada errada. Eles datam essa virada precisamente em 23 de abril de 1521, dia em que os líderes comuneros (revoltados contra o novo imperador, Carlos V)  – Juan de Padilla, Juan Bravo e Francisco Maldonado – foram decapitados em Villalar. Desde aquele dia fatal, uma dinastia estrangeira introduziu o despotismo na Espanha. A liberdade política morreu em Espanha em 1521 sob os golpes do primeiro governante da Casa da Áustria(…) Em abril de 1521, o absolutismo dos Habsburgos, que acabava de se estabelecer na Espanha, conseguiu destruir a democracia municipal. Em abril de 1931, os municípios espanhóis destroem legalmente a monarquia absoluta e restauram a república. Um grande ciclo histórico está se fechando; uma revolução profunda ocorre pacificamente, palavra que, do ponto de vista etimológico, significa que voltamos ao ponto de partida. Voltamos a 1521, à suprema soberania popular, quatro séculos e dez anos depois. Já se passaram muitos séculos e muitos anos. É pouco se tivermos em conta a majestade desta revolução espanhola, única na história”.

A divisão dentro de um pais, as críticas que os espanhóis fazem da Espanha, também não é um privilégio deles, mas acontece em todos os povos. Anota Pérez: “Não são os estrangeiros os responsáveis ​​pelos confrontos; são os próprios espanhóis, divididos como também, muitas vezes pelas mesmas razões, os franceses e outros povos; a lenda negra não tem nada a ver com essas mágoas”.

A modo de esclarecimento final, de tentativa de resumo, vale traduzir mais um par de parágrafos, agora de volta ao tema central, a lenda negra: “A história da Espanha entre 1516 e 1648 é um caso particular de duplo fenómeno. A rejeição do chamado imperialismo. Este tema não é específico de Espanha. Estados Unidos de hoje são o melhor exemplo disso; nós os admiramos e, ao mesmo tempo, os odiamos porque dão a impressão – justificada ou não – de querer dominar tudo. Sentimentos semelhantes foram inspirados na Espanha de Filipe II. A Espanha não tem do que reclamar nesta comparação; ela está em boa companhia; o tempo que passou desde o século XVII tornou obsoletas as razões que permitiram a constituição da lenda negra; os historiadores fizeram justiça aos excessos, às interpretações erradas e às falsas acusações. Os espanhóis não foram visados ​​como povo, mas como potência dominante; hoje já não tememos o imperialismo de Espanha; portanto, não temos mais escrúpulos em admirar suas glórias e seus sucessos (…)  A maioria dos ataques da lenda negra são falsos, exagerados ou de má fé, nada ajuda: uma parte da Europa os faz seus porque está cega pela obsessão do perigo de lutar, o imperialismo do poder hegemônico”

Concluindo e convocando de novo os espanhóis na parte de culpa que tem no cartório: “É verdade que circulam muitos preconceitos e estereótipos sobre a Espanha e os espanhóis, mas não são mais numerosos nem mais absurdos do que os que se propagam sobre outros povos; eles apenas testemunham a ignorância em que os homens muitas vezes se encontram uns em relação aos outros. Não há nada nisto que deva chocar os espanhóis. Outras críticas, por outro lado, são imputáveis ​​aos próprios espanhóis, pelo menos àqueles que se recusam a assumir o seu passado: alguns deles não se perdoam por terem sido os povos que descobriram e conquistaram a América, que era a potência hegemónica na Europa do século XVI, que foi a pátria de Cervantes, de Velázquez, de Goya…, mas de nenhum génio comparável a Descartes ou Newton. Tal atitude é um comportamento masoquista, o que também nada tem de especial nem de original”.
Basta dar uma olhada no mundo de hoje, para contemplar os “arrependidos” de tudo o que outros fizeram, incomodados porque -arrogância ignorante- não lhes consultaram a eles. Em outro livro que li em simultaneidade com este, encontrei um parágrafo que não resisto a copiar, sobre os “arrependidos”. Diz assim: “como se atreveu o mundo a considerar-se importante antes do nosso nascimento, conosco tudo se inaugura e o resto é velho, restos inúteis cujo destino é o esmagamento e o lixo”. Uma pérola que reflete os tempos que nos tocam viver. Como diziam os antigos, os romanos: O tempora, o moris! Sem dúvida, conhecer história, mergulhar na cultura, ajuda na ponderação, na serenidade, e até na saúde mental. Esse é o conselho final, da minha própria colheita.

Comments 1

  1. Devo elogiar a ampla discussão sobre diversos momentos históricos e seu biés imterpretativo. Nesse contexto, cumpre ressaltar aprnas as diferenças entre historigrafia e história. A historiografia busca estudar a maneira de interpretar as fontes históricas e como isso afeta o modo como a história é escrita. Aí reside a questão chave. Parabéns!

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