D. Quixote em Unamuno:
Idealismo realista e coragem para enfrentar a vida.
Há livros que marcam, para toda uma vida. Podem ser duas ou três ideias, que repousam no fundo da memória, nos cantos recônditos da alma, e que, com irregular ritmo -quando lhes apetece- surgem, põem a cabeça para fora, nos dizem: estou aqui, lembras? Este é um desses livros. Uma recomendação que devo creditar -e agradecer- a um professor de literatura que tive há mais de meio século. A vida de D. Quixote e Sancho, sonhada e assimilada, com vitalismo singular, por Miguel de Unamuno, publicado em 1905. Fiz um longo resumo da obra, naturalmente em castelhano, porque muita audácia me parece, oferecer uma tradução livre da prosa do Reitor da Universidade de Salamanca.
Mas, sabendo da compreensão de D. Miguel, atrevo-me, sim, a traduzir um par de parágrafos -plasmar as ideias que surgem, vez e outra- pois essas estão lá, datilografadas, no meu fichário há mais de 30 anos. Encontro um que me comove, porque há muitos anos copiei-o, com devoção e cuidado, num pedaço de papel, e usei-o inúmeras vezes, como alavanca para as minhas tentativas de humanização e para empurrar a sonhar sem medo. Diz assim: “Tudo neles é sensualidade, e mesmo com ideias, grandes ideias, eles se apaixonam sensualmente. Eles são incapazes de casar com uma ideia grande e pura e constituir uma família a partir dela; apenas acumulam ideias, as consideram como amantes, menos ainda, talvez como companheiras de uma noite.” Um grito de gelar o sangue – mais ainda hoje– quando os ideais e os projetos não duram, não passam da terceira página… como diz um amigo meu.
Leia mais