MARTY
(Marty) Diretor: Delbert Mann. Ernest Borgnine, Betsy Blair. USA 1955. 91 min

Pode-se esperar poesia quando se tem como matéria prima algo vulgar? Um açougueiro, gordo, com pouco atrativo físico é tudo o que contamos para iniciar nosso poema. Fosse pouco, Marty -esse é o nome do nosso açougueiro- é um sujeito tímido, convencido de que nunca deixará de ser o solteirão sem remédio. “Já fiz várias tentativas -diz à mãe num diálogo dramático onde verte todos os seus complexos e limitações- e só arrumei dor de cabeça. Quando se convencerá de que tem na família um filho gordo e feio, um solteirão sem jeito?”. Marty é mesmo, como se diz vulgarmente, a história do “encalhado”.

Logo nas primeiras cenas reparamos que Marty tem uma simpatia peculiar. Trabalhador, brincalhão com os fregueses no açougue, falador, entrosado no ambiente da colônia italiana. Os amigos -tem amigos que o apreciam- convidam-no para os programas de sábado. Frequenta o “Poeira de estrelas”, uma versão anos cinquenta das nossas discotecas-danceterias de hoje. Mas não passa disso. Marty tem fundo, pensa e vive seu drama interior. Sabe que os seus amigos são tão tímidos quanto ele, mas tem lábia e presença. De qualquer modo o resultado deles é o mesmo: o insucesso com as moças, sem resultado estável, que vingue. Marty está farto dessa simulação, do programa sem objetivo, da pesca sem peixe. Está preso nas próprias limitações.
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