William Faulkner: “Absalão, Absalão”

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Faulkner canta e sonha o Sul profundo americano. Não é uma descrição, mas um delírio sulino onde os protagonistas são o destino, as paixões humanas, a miséria e a compaixão, que se apóiam em personagens que servem de mera desculpa para encarnar todas as atribulações humanas. Por isso, as personagens não se visualizam racionalmente, apresentam-se como atemporais, e a narrativa –que não parece lhe interessar ao autor- vai e volta no tempo, sem advertências, numa mistura bizarra de momentos e locais. Traços psicológicos a modo de um quadro impressionista que deixam entrever, como pano de fundo, o Sul denso, perdedor da guerra, envolvido numa saudade que Faulkner não quer dissimular nem prescindir. Um livro de difícil leitura, complicado, impróprio para quem busca um romance com argumento e personagens definidos. É a evocação do autor, com a autoridade que lhe confere o premio Nobel, mas também com uma peculiaridade muito especial. É possível que a tradução desta edição não ajude. Pensei, até, em como seria traduzir mal Guimarães Rosa, que sonha o sertão e os jagunços, para o Inglês. Talvez resultasse algo análogo, embora o autor brasileiro seja muito mais rico em considerações e pensamentos que enriquecem a narrativa. Ler Faulkner é sempre um arriscar um mergulho psicológico nos abismos da alma, uma alma que parece carecer de corpo, porque talvez o corpo seja o sul confederado, perdedor, orgulhoso, altivo.

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