John Williams. “Stoner”

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John Williams. “Stoner”. Ed. Baile del Sol. Tenerife. 2012. 240 pgs. 

     Um amigo estava interessado nesta obra, da qual eu nunca tinha ouvido falar.  Aproveitei uma viagem para comprar a edição em Espanhol, porque não existe a tradução portuguesa. Naturalmente, o livro pagou o pedágio necessário e avancei na leitura, quase até o final, na viagem de regresso ao Brasil.

     As frases que costumeiramente se colocam na contracapa despertaram meu interesse. Afinal, essa é a função delas, estudados golpes de marketing. Chama-se a atenção para o injusto esquecimento desta importante obra, publicada em 1970. Fala-se dos dramas quotidianos salpicados de resignações e decepções, da naturalidade com que o autor trata as personagens que se nos tornam queridas, do herói que suporta as agonias profissionais e pessoais. Enfim, há quem se atreva a qualifica-lo como uma obra mestra.

     Terminado o livro, volto sobre as frases da contracapa. E reparo que não dizendo absolutamente nada da trama, resumem perfeitamente o drama de William Stoner. Um filho de camponeses que se torna professor de literatura na Universidade de Missouri. É uma réplica da vida do autor, também professor de Inglês nessa mesma Universidade, que tem o cuidado de advertir que, mesmo dedicando o livro aos colegas do departamento, as personagens e a trama são pura ficção. A tradução está muito bem feita. Agradece-se a riqueza de vocabulário e as descrições precisas que traduzem a fenomenologia intimista de Stoner; algo que, certamente, o original inglês deve cuidar com esmero. Afinal o autor é catedrático na matéria.

     A frase da contracapa que mais despertou meu interesse é justamente a que menos encaixa nas minhas percepções, uma vez acabada a leitura. “Um retrato magistral de um homem virtuoso e verdadeiro”. De fato, o retrato é magistral, e a descrição do contexto externo perde vigor perante o impressionante mergulho nos sentimentos, e no drama interior do protagonista.  Do que não tenho certeza é do predicamento virtuoso de Stoner. Um homem cinza, apagado, que possui riqueza de conhecimentos, competência no seu campo, mas incapaz de projetar-se socialmente. Afinal, não sei se isso é timidez, ou pusilanimidade, ou uma mansidão mal entendida.

     Mesmo assim, o livro me ajudou muito. Fez-me entender o valor dos silêncios, talvez porque visualizo como virtude o que o protagonista vive por ser o seu natural. A frase que mais aparece no livro é “Não tem importância”. Uma despreocupação que não é indiferença, nem superficialidade; mais se assemelha a uma aceitação resignada e silenciosa de um destino inevitável. Que isso seja virtude é já outra questão. Lembrei-me da conhecida frase de Santo Agostinho: “Martires non facit poena, sed causa”. O que transforma alguém em mártir, não é o sofrimento da pena, mas o motivo pelo qual se sofre. Como a motivação é algo que depende da cada um, sempre é possível inspirar-se nos sofrimento silencioso de William Stoner para, temperando-o com a intenção adequada crescer em virtudes.

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