Javier Moro: “O Sári Vermelho”.
Javier Moro: “O Sári Vermelho”. Planeta. São Paulo 2009. 559 págs.
Leituras na Pandemia- 5
A prosa jornalística de Javier Moro já tinha-me conquistado quando li O Império é Você, o relato da construção do nosso Império Brasileiro, e as andanças de D. Pedro I, que lhe rendeu o Prêmio Planeta, um dos mais destacados galardões literários na Espanha. Na época, houve quem lhe criticou por não ater-se à realidade histórica. Mas o escritor respondeu de modo contundente: “De fato posso ter inventado os diálogos, mas os fatos foram esses mesmo”.
A tertúlia literária mensal leva-nos agora até a Índia, e o relato que nos ocupa é, de algum modo semelhante. Moro faz a história compreensível, a romanceia -diálogos, menus, guarnições- mas sabe ater-se aos fatos. Não são romances históricos -personagens de ficção, encaixados na história real, que alternam com figuras reais, como a costureira de Maria Dueñas, ou O homem que amava os cachorros, de Padura– mas história romanceada, que é diferente.
O Sári Vermelho está centrada numa personagem real, Sônia, uma italiana que faz se faz indiana por amor. E à volta dela, desfilam todas as figuras apaixonantes desse pais, que é um continente, talvez mesmo um império, por reunir povos díspares e variadíssimos. Eis a descrição textual: “Um país de maioria hindu, mas com mais de 100 milhões de muçulmanos que o transformavam no segundo país islâmico do planeta. Sem contar os 10 milhões de cristãos, 7 milhões de siques, 200 mil parses e 35 mil judeus, cujos antepassados haviam fugido da Babilônia depois da destruição do templo de Salomão. Um território onde conviviam 4635 comunidades diferentes, cada qual arrastando suas próprias tradições, e línguas tão antigas quanto diversas. Nessa babel eram usados 845 dialetos e dezessete línguas oficiais. Mas o inglês, a língua dos colonizadores, continuava sendo o idioma comum depois de a imposição do híndi ser rejeitada pelos estados do sul. Devoto de 330 milhões de divindades. A despeito do que profetizara um general inglês no momento da independência: “Ninguém pode forjar uma nação em um continente de tantas nações”.
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