Avatar y las estaciones del año

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Vi no hace mucho la película de Avatar. Me sorprendió la enorme belleza de la película, un exceso de maravillas que el cuerpo agradece, y sobre todo lo descansa y agranda la mirada.

      La defensa de la vida en el film, se me hizo en algunos momentos incomprensible, hasta que como siempre la propia vida ofrece una interpretación válida al menos para uno mismo y comprensible para otros aunque su experiencia vital sea diferente.

      La naturaleza del hombre y su vida están felizmente ligadas a la Vida y a la Naturaleza. Lo que destruye esta daña también aquella. Así en nuestro vivir a veces las estaciones del año que nos brinda la traslación de la tierra se manifiestan al modo humano impregnando todo cuanto hacemos.

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AVATAR: Estética em 3D, liderança e valores em 4D.

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    Com um globo de ouro na mão, esperando a festa do Oscar como grande favorito, e tendo batido recorde de público e de arrecadação, é possível acrescentar algo diferente ao muito já falado sobre Avatar? Essa deve ser a pergunte do leitor – se é que alguém se aventura a ler estas linhas a não ser por cortesia com um aprendiz de crítico- e a minha própria pergunta. Felizmente, o cinema acode em nossa ajuda enquanto evoco as palavras de Massimo Troisi, naquele filme encantador “O Carteiro e o Poeta”. Neruda recrimina o jovem carteiro de ter plagiado seus versos para compor uma poesia à mulher que ama. O carteiro se defende: “A poesia, Don Pablo, não é de quem a faz, mas de quem precisa dela”. Não é possível dizer de modo mais simples, algo tão profundo; e liquidar definitivamente o tema dos direitos autorais da arte, ou melhor, dos inúmeros significados que a arte encerra, e que cada um toma como mais lhe convém. As múltiples “exegeses” que têm sido elaboradas a propósito de Avatar são um exemplo da versatilidade da arte. Sinto-me, pois, no direito, de acrescentar mais uma à longa lista. Não será a melhor, nem a definitiva; será, apenas, aquela porção de poesia da qual eu preciso nestes momentos.
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David Gilmour: “O Clube do Filme”. Intrínseca. Rio de Janeiro, 2009. 234 pgs.

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21547890_41Um escritor, culto, conhecedor de cinema e com traços de anti-herói se defronta com o filho adolescente, que é um verdadeiro desastre no colégio. Surge a proposta: se não queres ir à escola, tudo bem; sempre que te mantenhas longe das drogas, e assistas três filmes por semana comigo. Um belo desafio, que não sabe onde vai dar.  Será que sou capaz de formar meu filho -pergunta-se o autor- prepará-lo para a vida? Eu mesmo, que estou desempregado formalmente –um bico aqui, outro lá-, com roteiros de documentários, programas de TV decadentes, escrevendo o que ninguém lê? Será que sou capaz? Assim começa o clube do filme, que da origem ao livro.
    O livro é o diário do clube do filme, onde as sessões de cinema no mano-a-mano se mesclam com diálogos, reflexões, tentativas de tirar o jovem do fundo do poço: nos estudos, nas decepções amorosas, na perspectiva do mundo e da vida que tem por diante. Os filmes detonam reflexão, se não de imediato, sim em forma de bomba relógio. Tem pegada. Todos eles. Talvez mais do que os filmes, é a paixão do pai pelo cinema –afinal, ele coloca os filmes dele, os que lhe tocaram, aqueles que guarda na memória e no coração- e os bastidores de cada filme, dos diretores e atores, que conhece como todo cinéfilo, e faz questão de contar a modo de aperitivo para o filho. “Eu volto aos filmes antigos não apenas para revê-los, mas também com a esperança de reviver as sensações de quando os vi pela primeira vez (Isso não se aplica apenas aos filmes, mas a tudo na vida)”.    
     Um livro peculiar que mostra, mais uma vez, que é possível utilizar o cinema para educar as pessoas. Não de um modo formal, em conteúdos, mas certamente abre caminho para abordar as atitudes, que são a base de qualquer educação. As questões que o cinema levanta – um modo plástico de entender a vida- teriam ficado ocultas a não ser por este curioso e arriscado modo de ensinar. O leitor poderá ter diferenças –talvez muitas- com os critérios educacionais do autor, discordará dos valores que se ventilam. Mas, vai aqui o meu conselho: faça uma abstração da normativa moral e fique com o método. E aplique-o: se surpreenderá vendo a quantidade de assuntos que surgem no vácuo de um filme, de uma cena. É o que os educadores denominam curriculum oculto: algo ao qual não prestamos atenção, porque não sabemos como lidar com ele. Está na hora de começar.

El piano

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Por Mariluz González Blasco

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Mandé, por fin, afinar el piano. Al ritmo de sus sonidos iban renaciendo recuerdos de la infancia y recuerdos de las personas que lo tocaban.

Cuando el maestro terminó su trabajo quedó asombrado. “Este piano ha respondido de maravilla. Sólo en otra ocasión encontré un instrumento como este que después de 25 años sin afinarse me respondió tan magníficamente.” Al principio cuando el afinador pulsó las teclas, diagnosticó una “enfermedad grave”. “No sé si el piano aguantará la afinación, está muy mal”.

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David Allen: “A arte de fazer acontecer” (Getting things done). Elsevier. São Paulo. 2005 200pgs.

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Poderia ser um livro de auto-ajuda e talvez seja mesmo. Um livro para fazer melhor as coisas que todos temos de fazer diariamente. Os conselhos não são novos nem brilhantes, mas nem por isso deixam de ter importância; especialmente porque mesmo sendo conhecidos, são poucos os que, no frigir dos ovos, os colocam em prática. O autor recomenda que sendo muitas e de caráter muito diverso as pendências de cada um, as tiremos da mente –da memória RAM- e as armazenemos em compartimentos adequados para consultar quando for necessário. Criar, pois, caixas de entrada que, periodicamente serão esvaziadas no processo que catalogará as pendências nas prateleiras correspondentes: fazer agora, estudar depois, algum dia talvez, para quando tiver tempo. Esvaziar a mente para dedicar-se ao que, neste momento presente, estamos fazendo: um belo conselho, de lógica esmagadora.  “Na minha experiência –diz o autor- tudo o que é mantido na memória RAM psíquica vai demandar menos ou mais atenção da que lhe é devida, nunca a atenção exata: essa somente pode se atingir tirando as coisas da memória RAM e colocando-as no lugar que lhes corresponde(…) Nesse momento passaremos a refletir sobre as coisas ao invés de apenas lembrar que elas existem”.

    A falta de tempo não é, como muitos pensam, o verdadeiro problema. O problema é mesmo a falta de definição de um projeto que, por ser pouco claro, não resulta fácil estabelecer quais os passos a seguir para implementá-lo. Daí que uma das perguntas importantes que o autor recomenda é: “Muito bem, e agora: qual é a próxima ação a fazer? Essa pergunta centra o foco de modo surpreendente.

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“O Tempo entre Costuras”María Dueñas

Pablo González BlascoLivros Leave a Comment

“O Tempo entre Costuras”María Dueñas Ed. Planeta. Madrid. 2009. 640 págs.

Disfrutei enormemente lendo o romance de María Dueñas, naturalmente o original em espanhol, porque embora a tradução me consta ser boa, o sabor de frases que evocam a minha infância, quase os cheiros e perfumes daquela época são de todo ponto intraduzíveis.

São 600 páginas de leitura dinâmica, não tive como parar. Essa é a única dificuldade do livro, dosar a leitura, porque no embalo a coisa caminha sozinha. Um fenômeno narrativo que mistura aventuras, suspense, história e saborosos diálogos em boca de personagens magnificamente conseguidos. Isso resume tudo, e assim me recomendaram: mergulha no livro, nem te atreva a ler as orelhas da capa, que perderá impacto. Assim o fiz, e mesmo sem contar nada -nem mesmo as orelhas do livro- não resisto a contar outras coisas. Não do livro, mas de mim mesmo; ou melhor, da interação que tive com o romance nestes dias inesquecíveis de leitura. Do meu diálogo pessoal com ele.

Desde criança sempre me chamou a atenção escutar nas zarzuelas -essa versão tão espanhola de opereta- as canções, que falam de costureiras. Bailes nas quermesses, cheios de personagens únicos -o emproado sujeito conquistador de Madrid, matronas com um poder de fogo tremendo, cavalheiros ao velho estilo…e costureiras. Chamava-me a atenção porque nunca pensei que se poderia fazer tanta poesia com uma costureira, como se fosse uma classe aparte que merecesse ser citada. Embora -tudo deve ser confessado- a única costureira que conheci na infância era uma vizinha, muito amiga da minha mãe. Uma moça alta, de bom parecer, com muita classe, que costurava para as senhoras do bairro e, certamente para muitas outas. Pili (diminutivo carinhoso de Pilar) a chamávamos: Pili, a costureira.

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Os Abraços partidos de Almodóvar: A deformada imagem de uma triste realidade.

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   O melhor do último filme de Almodóvar é o título. Abraços partidos. No título original em espanhol os abraços não se partem: quebram-se, que é muito mais forte. São abraços rotos. O título é preciso, funciona como um prelúdio de tudo o que vem depois, como acontece com freqüência na ópera. Na abertura se esboçam os temas principais, compassos das árias e duetos que se sucederão, ou o leitmotiv que preside a composição e atrai como um imã os destinos dos figurantes. O fantástico prelúdio de La Traviata, por exemplo, converge para o grito desesperado de Violeta – Ama-me Alfredo!-, porque essa dama das camélias busca um amor que a sustente, já cansada de cair dos abraços, sempre partidos, de um e de outro.

   O título é uma ouverture que me fez pensar. Muito; tanto que decidi escrever estas linhas fruto da minha reflexão. Logo eu, que nunca coincidi com Almodóvar em quase nada, a não ser no gosto pelo cinema. Porque Almodóvar sabe fazer cinema, isso é inegável. Mas suas personagens se regem por um estilo tão bizarro que nunca consegui me identificar com elas. Digamos que me repeliam, mesmo antes de atingir o miolo da mensagem. A extravagância embaçava as idéias e os recados de modo a torná-los indigestos. Sem tirar nenhum mérito à estética –Almodóvar prima por ela- mas a estética é compatível com o mau gosto.

   Corria na Espanha uma história maldosa –provavelmente é uma lenda- sobre a mãe do Almodóvar. Parece que a boa senhora teria dito ao Pedro em certa ocasião: “Meu filho, com os filmes que você faz não consigo nem conversar com as vizinhas”. Lenda ou não, o assunto tem peso, porque na Espanha dessa época, o bom senso e os costumes passavam, impreterivelmente, pelo julgamento inapelável das comadres da vizinhança.

   Nos filmes de Almodóvar não havia ninguém normal. E dentro dessa anormalidade corporativa, o roteiro se desenvolve com uma lógica que é normal… para pessoas anormais. Algo similar ao que acontecia ao seu patrício de La Mancha, o fidalgo D. Quixote, embebido na paranóia. Tudo é lógico e correto salvo o referencial. Uma lógica interina –nos filmes de Almodóvar e nas andanças de D. Quixote- fechada sobre ela mesma, numa quimera bizarra. E os filmes onde ninguém é normal confesso que dificilmente me tocam. Nem me provocam nenhuma reflexão nem me sinto impelido a escrever.

   Houve uma evolução, pelo menos assim o entendo eu. Em Almodóvar, talvez em mim; o fato é que estou dando volta a estas idéias desde que vi o título, depois assisti filme e vi desfilar os créditos finais misturados com fotografias rotas, que se juntam a modo de quebra-cabeças, igual que eu faço agora tentando achar o fio condutor destas ponderações.

   Os últimos filmes de Almodóvar me surpreenderam com tentativas de normalidade. Comecei a discorrer. Fale com ela, Volver, me instigaram positivamente. A lógica bizarra deixava aparecer momentos de normalidade. Senti ser espicaçado por personagens mais próximos da realidade. Agora, com Abraços Partidos, a realidade assume o protagonismo. As personagens são normais, e o que se torna anormal é a situação delas. São pessoas normais vivendo na anormalidade, com tremenda naturalidade. Ai é que mora o perigo, e o motivo destas cogitações que foram se alinhavando conforme assistia o filme, quando o prelúdio do título desabrochava.

   Os temas recorrentes no cinema de Almodóvar – a ausência do pai e a mãe solitária, as tramóias de infidelidades com variedade de amantes, as obsessões e torpezas- continuam presentes. Mas ao invés de estarem inseridos num mundo quimérico de criaturas bizarras, são o quotidiano de seres muito próximos a nós, valha dizer, normais, comuns. E tudo com extrema naturalidade, onde o chocante dá lugar ao cômico que, na verdade, oculta o patético de pessoas que sofrem. Ninguém se salva; ninguém vive uma situação normal, todos estão destroçados, e parece que esse é o mundo que nos rodeia. O nosso mundo, onde vivemos rindo – por não chorar-, já que todos riem, e parece que a vida é assim mesmo. Paciência!

   Ocorreu-me pensar que com estas novas coordenadas, a mãe do Almodóvar não teria nenhum problema em falar com as vizinhas, porque a vizinha deve ter um filho, ou um irmão, ou uma neta em situação tão triste como as personagens do filme. Ou, quem sabe, a própria vizinha se encontra em semelhante circunstância. Fazer o que? Hoje é assim mesmo, não? Talvez não; paremos para pensar. Pensemos nos abraços e nos encontros, seu preâmbulo necessário.

   Quando nos deparamos com alguém que nos ataca, por exemplo, com um punhal sabemos o que podemos esperar desse encontro. Fugimos dele, o evitamos, tentamos dar o troco por adiantado. É um instinto de preservação. As armas são de espécie variada: metálicas e morais, já sabemos disso. Até aqui o consenso é universal: nada a esperar, a não ser fugir em tempo.

   Depois há outro tipo de encontro, não ameaçador, mas cujos resultados são também previsíveis: o fastio, a solidão quando o produto se esgota, quem sabe o vício aditivo. Um universo de ampla diversidade que vai do comércio sexual até os estímulos químicos variados, passando pelas variações de lances ao modo de Don Juan. No fundo, ninguém espera crescimento nenhum desses encontros; e se o interessado se encontra embotado para descobrir que o valor agregado de semelhantes peripécias é nulo, a maioria dos mortais concorda ser um erro tal investimento. O problema real são os abraços… partidos.

   O que buscamos no abraço? Aconchego, compreensão, conforto. Vamos desarmados, nos confiamos em quem nos quer, buscamos sustento. Não é o amasso libidinoso nem o calor sensual o que nos atira nos braços do interlocutor. É uma simbiose única de pedido de ajuda e demonstração de carinho sincero. E ai, no meio dessa festa, o abraço se quebra, caímos, nos machucamos e não sabemos se o que dói mais é o golpe ou a decepção. Fomos enganados? Houve má fé? Provavelmente não; de nenhum dos dois lados se tramou uma fraude consciente. O que falta é fortaleza para sustentar o compromisso, para segurar o outro em abraço protetor. As carências de afeto nos empurram para os primeiros braços que acenam. São talvez braços sinceros, mas raquíticos e consumidos também pelas próprias carências, pelas fraquezas de caráter, que é o verdadeiro núcleo do problema. Somar fraquezas e carências não gera fortaleza nem músculo afetivo. Os abraçados contemplam, com pavor, como o abraço se desintegra porque, mesmo havendo boa vontade, falta a verdadeira nutrição do amor.

   Deveríamos aprender das experiências, mas o homem é um ser que esquece; e tropeça muitas vezes na mesma pedra. O processo continua. Mal se recompõe do golpe, parte para outra, enxerga a possibilidade de um novo abraço, lembra como um pesadelo do último incidente e pensa: “agora vai ser diferente, agora já sou gato escaldado”. Mas não o é, lança-se com fruição ao abraço, e sobrevém a nova calamidade: o colo protetor se esfarela novamente, restando os cacos machucados que Almodóvar nos desenha com perfeição.

   A questão é de simples enunciado, embora seja de árdua execução. A boa vontade e as toneladas de carência que arrastamos não são suficientes para configurar braços fortes que nos sustentem e que sejam capazes, por sua vez, de amparar os outros, fazendo da nossa vida um serviço real. A solidez afetiva, o amor que no dizer bíblico “é forte como a morte”, somente se consegue com treino diário, com os halteres que implicam num exercício quotidiano de doação e de construção própria. Quando se vive mergulhado no egoísmo e todo o universo que somos capazes de contemplar se esgota no próprio umbigo, o músculo afetivo se atrofia, é incapaz de fornecer amor sustentável. Vive-se numa atmosfera de sentimentalismo adocicado, pratica-se alguma filantropia de ocasião –pouco mais do que dar esmola em farol- mas no frigir dos ovos, esses braços são quebradiços, e os desejados abraços não passam de papel molhado.

   Já dizia Zeffirelli, outro esteta do Cinema, que o amor se estraga por descuidar os detalhes: minúsculas bobagens, mal entendidos diminutos, preguiças microscópicas que não se teve o valor de desmascarar. Como um câncer que não se descobriu em tempo de salvar a saúde. Como a ginástica do carinho esforçado que se despreza no dia a dia, que renderia músculos vigorosos capazes de abraços sustentáveis. Descuidar os detalhes é a traça que consome a força interior, o caminho definitivo para o raquitismo da alma. Processo silencioso, latente, que mostra a explosão da sua fragilidade quando pretende abraçar a alguém e o deixa cair, uma vez e outra. Um desastre.

   Almodóvar nos brinda com uma vigorosa direção de atores, feitos à sua imagem e semelhança – são atores que levam sua marca-; uma mise-en-scène envolvente, com suas tomadas, fotografia, montagem e trilha sonora. Um cinema de primeira, que se impõe. E, dentro dele, como um espelho do nosso mundo onde a técnica impecável oculta tanto dissabores, pessoas normais, vivendo na anormalidade; tristes, fracos, com a vida destroçada de tanto derrubar-se de abraços anêmicos. Mas –vai aqui minha frontal discordância- o mundo não é isso. Tem mais, muito mais, meu caro Almodóvar.

   Existe sim senhor, o amor esforçado. Existem pessoas normais que fazem questão de viver na normalidade, mesmo que no mundo haja quem mal viva de tanto golpe de abraço roto, apanhando que nem mulher de malandro e nem saiba como lhe chegam os coices.  Existem muitos que sabem viver com alegria e tornam compatível o sacrifício e a generosidade – a ginástica afetiva!- com desfrutar da vida. O filme é uma imagem deformada de uma triste realidade. Da realidade que Almodóvar contempla e nos quer fazer acreditar que é a única. De jeito nenhum!

   Por isso eu fico com o melhor do filme, que é o título. E com ele uma esperança: a de que este diretor, patrício de D. Quixote, se aventure a descobrir o outro lado da realidade, a Dulcinea que se esconde tímida, por trás da moça de aldeia, de vida fácil. Daí sim, com o seu cinema de categoria, nos ajudará a fazer um mundo melhor, a mostrar uma luz de esperança onde encontremos o abraço perfeito que conforta e nos anima a ser melhores. E então, se me é dada essa oportunidade, eu mesmo irei conversar com a mãe do Pedro sobre os filmes que ele faz e celebraremos juntos haver sabido esperar a plenitude de um homem que ama o cinema e nos ensina a amá-lo sem medo

Kazuo Ishiguro. “Não me abandone jamais” Companhia das Letras. São Paulo (2005). 343pgs.

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3180106Romance peculiar, com um suspense “incômodo” que apenas se esclarece no final do livro. As pessoas funcionam corretamente, mas são como de plástico, sem história de vida, sem raízes, sem família. Algo não se entende. E chega mesmo a incomodar as passagens onde se mostra que funcionam sem nenhuma categoria moral, apenas com uma correção formal muito questionável. No fim, tudo isto vem à luz, mas já é tarde. O impacto é forte, mas é uma pena que tenha se deixado para o final o grande questionamento: o que fazemos com toda essa técnica que nos embriaga? Por outro lado, se isto fosse mostrado desde o começo, perderia força e suspense.

John Twelve Hawks. “O Peregrino” 496 pgs. Rocco. Rio de Janeiro, 2005.

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8532519806Romance de ficção. Uma mitologia que descreve a Imensa Máquina controladora dos homens, os Peregrinos, seres que não estão sob o controle da máquina, e os Arlequins, cuja missão na vida é proteger os Peregrinos. Um romance mistura de capa e espada e Star Wars empolgante e que prende a atenção. Curiosamente, ninguém sabe quem é o autor, se o nome é verdadeiro ou pseudônimo, e mesmo o editor dele teve contato apenas por telefone via satélite. Vive como um dos peregrinos do seu livro.

José Antonio Millan: “Perdón Imposible” RBA Barcelona. 2005. 173 pgs.

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perdonbolsiUm livro divertido e dinâmico, que pretende ser um guia para uma pontuação mais rica e consciente. A obra não é um compêndio de regras, frias, desencarnadas. São reflexões, ilustradas com exemplos, que motivam o leitor para que se adentre na aventura de melhor pontuar. Afinal, não pontuamos –diz o autor- para dar gosto aos especialistas, mas para melhor comunicar-nos com os nossos semelhantes. Pontuar bem é uma necessidade, não um luxo; exige, de algum modo, colocar-se no lugar do leitor –de quem deverá ler o que nós escrevemos- para ver como se entende o que escrevemos; se estamos, ou não, fazendo-nos claros no modo de nos exprimir.  Mesmo escrito em espanhol, o livro será de utilidade para quem escreve português, porque as reflexões servem para qualquer idioma; afinal, o que o livro pretende é a que a expressão escrita se adéqüe ao que o escritor pensa e, de fato, quer exprimir. Um comentário colateral que se impõe –vem á mente enquanto lemos o livro- é que os déficits de conteúdo que encontramos no meio universitário de hoje são fruto da pouca leitura. Há muita comunicação presidindo um mínimo conteúdo. E o pouco conteúdo que se tem não se sabe exprimir com clareza. É preciso ler mais, para escrever melhor. Quem sabe carecemos de trocar algumas horas de navegação virtual por leitura e ensaios de escritura. O resultado, sem dúvida, compensará, pois a comunicação será mais eficaz.