Thomas Hardy: “Tess dos D’Urbervilles”

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Editora Pedrazul. Vitória. 2016. 465 págs.

Quando li este livro por primeira vez, há quase 30 anos, penso que cometi uma injustiça com Thomas Hardy e com a protagonista. Explico. Estava eu na época envolvido na docência na faculdade de medicina, e um dos tópicos das minhas aulas era o estudo dos temperamentos: nada mais importante para um médico do que conhecer-se para também conhecer os outros; saber navegar nos diversos modos de perceber o mundo, e de reagir perante o que o mundo nos apresenta.

Lembro perfeitamente que quando abordávamos o temperamento assim denominado nervoso, quer dizer, alguém que é por natureza pura emoção, uma antena parabólica -hoje diríamos uma fonte de 5G- que capta tudo, mas não processa nada, sempre citava Tess como exemplo desse temperamento. A frase que Hardy coloca para apresentá-la é contundente: “Nessa altura da vida, Tess Durbeyfield não passava de um recipiente de emoções ainda não afetadas pela experiência”. A definição pareceu-me tão precisa -emoções não trabalhadas- que não avalie a temporalidade, quer dizer, a referência ao momento de uma adolescente nascendo para a vida.

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Card. Robert Sarah: “A Força do Silêncio”

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Card. Robert Sarah: “A Força do Silêncio” Ed. Fons Sapientia. São Paulo. 2016. 296 pgs.

O título é do mais sugestivo: a força do silencio, contra a ditadura do ruido. O autor, um Cardeal Africano que foi Prefeito da Congregação para o Culto Divino e a disciplina dos sacramentos, também me provocou. Decidi ler o livro sabendo que encontraria, sem dúvida, conselhos de índole espiritual mas também muitos outros aspectos aplicáveis na vida quotidiana, na trincheira. Não me enganei, li, gostei. Tanto que não posso evitar fazer alguns comentários -sem pretensão de resumir um livro que deve ser lido e meditado- a modo de instigação, e como matéria de reflexão: pessoal, em primeiro lugar, e que talvez possa ajudar outros.

Logo no início, Sarah situa o tema da necessidade do silêncio perante o tumulto em que vivemos: “ Nosso mundo deixou de ouvir a Deus, porque não para de falar em ritmo letal e velocidade para não dizer nada. A civilização moderna não sabe calar. Vive em monólogo permanente. A sociedade pós-moderna rejeita o passado e considera o presente um vil objeto de consumo: contempla o futuro entre os raios de um progresso quase obsessivo. Seu sonho, transformado em triste realidade, foi trancar o silêncio em um calabouço úmido e escuro. A partir de então, instaurou-se uma ditadura da palavra, uma ditadura da ênfase verbal. Naquele cenário sombrio, resta apenas uma chaga purulenta de palavras mecânicas, sem alívio, sem verdade e sem fundamento. Muitas vezes a verdade não passa de uma criação midiática enganosa e consolidada por imagens e testemunhos inventados”.

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José Ortega y Gasset: A Rebelião das Massas

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Em Español: J. Ortega y Gasset: La Rebelión de las Masas.  (1930). Ed. Digital Titivillus, Epublivre 2019. 270 págs..
Em Português : J. Ortega y Gasset. A Rebelião das Massas.  Ed. Eletrônica . Ed Ridendo Castigat Mores. 279 páginas.

Por uma série de circunstâncias -os desafios académicos, os atritos quase diários com a mediocridade representada por uma medicina cada vez mais sucateada- volto sobre a obra magna de Ortega após 30 anos da primeira leitura. Leio, me emociono, confirmo o que há tanto tempo venho pensando, tentando praticar e ensinar aos outros: como escapar do homem massa, que nos cerca, aliás, que está dentro de nós à espreita de baixarmos a guarda.

Longe de mim tentar neste espaço um resumo do emblemático livro do filósofo espanhol. Não é um livro para ser resumido, mas lido, pensado, meditado. Não existe “short version”, leitura facilitada, porque seria incorrer na postura do homem massa, protagonista dessas páginas. O esboço destas linhas é apenas uma tentativa de, em certa maneira,  saldar a dívida que tenho com o pensador. Pagar os royalties intelectuais a quem muito me inspirou ao longo destas décadas,  em aulas, conferencias e muitos dos escritos que me atrevo a produzir.

E como se trata de oferecer um aperitivo convidativo a uma leitura profunda, eis que na edição digital que obtive, me deparo com um Prefacio de Julián Marías, discípulo de Ortega, outro pensador a quem tenho uma admiração enorme. Deixo, pois, a Marías a palavra que esboça com mestria as grandes linhas desta obra do seu mentor.

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Fred Vargas: “Um Lugar incerto”.

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Fred Vargas: “Um Lugar incerto”. Companhia das Letras. São Paulo 2011. 368 págs.

A tertúlia literária deste mês, leva-nos até uma autora francesa, historiadora, especialista na primeira guerra mundial…..que gosta de escrever romances policiais. Evidentemente, sobre gostos não há nada escrito, cada um tem suas manias, mas confesso que me surpreendeu o curriculum acadêmico da escritora que, aliás, tem imenso sucesso de vendas, sendo traduzida para mais de 30 idiomas. Um velho amigo já falecido, grande leitor,  tinha me comentado sobre ela. Os comentários dos bibliófilos sempre devem ser levados em consideração.

A livro agradou a todos. Um sucesso. Mas os motivos do apreço coletivo foram diferentes. Quer dizer, é possível ler um livro, gostar dele, e ver coisas completamente diferentes, ser captado por aspectos variados. Por tanto um sucesso em duplo. Esse é o cerne da tertúlia literária, saber apreciar a literatura, permitir-se interpretar, gostar, parar de ler, voltar sobre o lido, ou simplesmente deixar nas entrelinhas, e continuar  contemplando outras nuances.

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Revisitando The Crown: De volta ás reflexões, com novos aprendizados.

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A recente morte da Rainha Elizabeth II, levou-me de volta até esta grande série. Mas não foi uma decisão nostálgica, e sim um acordar para uma responsabilidade, uma pendência que se arrastava há algum tempo, vários meses, quase anos. Tempos atrás, assisti as duas primeiras temporadas, e comentei amplamente  o muito que aprendi.  Assisti também as temporadas seguintes, aprendi, tomei notas….mas não escrevi. Deixei em compasso de espera, e agora surge como um débito a resolver. Voltei até o início da série, assisti novamente os 40 episódios, não como diletantismo, mas com um olhar de aluno sedento de aprendizado. E, finalizada essa revisitação, sento na frente do computador para rascunhar estas linhas, para captar as reflexões -muitas- que inundaram novamente a minha mente. Com luz nova, com sabor de aprendizados magníficos.

Pontos altos? Muitos;  e todos, como aulas pontuais, decantam em sabedoria e estimulam a incorporar atitudes. Foi assim que contemplei, com sabor novo, cada uma destas aulas, que isso são para mim, e por isso escrevo -para eu não esquecer- e por se aproveitam a outros.

O episódio trágico em Gales, Aberfan, uma mina afundando, um descolamento de terras, muitos mortos, a maioria crianças de uma escola. A Rainha hesita em visitar o local, confortar as famílias. Finalmente se decide, mas sente que lhe falta emoção. O diálogo com Harold Wilson -primeiro ministro do partido trabalhista- é uma pérola. A rainha confia a ele sua falta de empatia, de emoção prática. Wilson esclarece: “Sou o líder do partido trabalhista, mas nunca fiz trabalho manual, nem um só dia. Sou um académico, um professor de economia de Oxford. Gosto de charuto e de comer steak. Mas quando estou com o partido, permito-me fumar cachimbo -não charuto- e comer outras coisas. Majestade, se queremos ser tudo para todos a todo momento, deixamos de ser nós mesmos, perdemos a identidade. A senhora fez o que tinha de fazer, não importa o que sentiu ou deixou de sentir. Fazemos o que temos de fazer como líderes, é o nosso trabalho, acalmar mais crises das que criamos. Em certo modo, sua falta de emoção é uma benção: ninguém quer uma chefe de estado histérica”. Fazer o que se deve, sem importar-se com o sentimento, mas estar focado nos outros, aos que temos de servir. Essa é a função da monarquia, que um ministro trabalhista vem lembrar à soberana.

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E.D. Hirsch. La escuela que necesitamos.

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E.D. Hirsch. La escuela que necesitamos. Ediciones Encuentro. Madrid (2012). 446 págs.
Título Original: The Schools We Need. Traducción: Gema García de Celis. |

Chega o momento de resumir rapidamente, o terceiro livro que, repousando na minha estante há alguns anos, tive que desentocar por conta do curso para formação de professores que dei há alguns meses. Completo assim a trajetória de leituras sobre educação, somando a este, os

dois  anteriormente comentados neste espaço.

O autor apresenta uma crítica estruturada e com fundamento sobre a educação escolar em USA. “Não podemos assumir que os jovens de hoje em dia conheçam as coisas que no passado eram conhecidas por todas as pessoas com certo nível de educação na sua cultura”. E continua: “Pretender ensinar competências gerais em detrimento de conteúdo específico nos quais aquelas se apoiam é um procedimento pedagógico ineficaz. Quando não dedicamos tempo e atenção suficiente para aprender as coisas, provavelmente não sejamos capaz de fixar esse conhecimento a longo prazo. Diz-se que o aprendizagem é um prazer, mas é mais o prazer de quem sobe uma montanha e supera as dificuldades, do que quem está sentado tranquilamente no cume contemplando”.

Diante das tendências modernas -deixar a espontaneidade do aluno reger o processo do aprendizado- Hirsch, cria a Core Knowledge Foundation, como alternativa ao progressismo educacional que, no entender dele, não funciona. Invoca a conhecida frase de John M Keynes: “São as ideias , não os interesses pessoais, os que são perigosos para o bem e para o mal”. E, como não poderia deixar de ser, apresenta uma oposição franca à pedagogia criativa de Paulo Freire, comparando-o com outro educador de esquerda, Gramsci, livre de qualquer suspeita: “Se não damos conhecimento perpetuamos a divisão de classes. Não oprimir com toneladas de conhecimento, deixar a espontaneidade do aluno fluir,  não estreita esta divisão” -vem dizer Gramsci.

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Bram Stoker: “Drácula”.

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Bram Stoker: “Drácula”. Amazon. Edição Exclusiva. Antofágica. 2013. 570 págs.

Drácula chega a nossa Tertúlia Literária, e eu volto sobre este livro…..após 50 anos. Lembro de ter mergulhado nas suas páginas, ainda adolescente, enquanto esperava o ônibus do colégio de manhã, no frio outono madrilenho. E lembro dos diários de Lucy, que me impactaram: a narrativa de quem, sem saber, estava sendo dessangrada todas as noites pelo conde da Transilvânia.

Hoje, meio século depois, minha aproximação de Drácula é, naturalmente, um pouco diferente. E junto com os diários de Lucy que permaneceram na minha memória, encontro notícias de jornal, telegramas, outros diários. Enfim, uma enorme variedade de “documentos escritos” que compõem esta sinfonia gótica. O adjetivo, gótico, é também atual: ninguém falava estes termos na década dos 70 do passado século.

De modo preciso se descreve na edição que reli, a composição deste livro peculiar que inaugurou a lenda do Conde Drácula. Anoto textualmente: “Narrado por meio de telegramas, diários, notícias de jornais, registros náuticos e outros tipos de documentos, a diversidade de vozes presentes nesse romance epistolar confere verossimilhança ao que é contado, ao mesmo tempo em que deixa os leitores incertos sobre o que realmente ocorreu. Na ausência de um narrador onisciente, e como o personagem que dá nome ao romance nunca se pronuncia, os relatos e descrições fragmentadas se tornam um enigma a ser decifrado pelos leitores”

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IRENE VALLEJO

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“INTENTO GENERARINTERÉS POR LO ETERNO”

Irene Vallejo (Zaragoza, 1979) es el rostro lúcido, la mirada clara, las manos unidas, las líneas ontundentes, los libros en vena y el perfume atractivo de humanismo que destilan El infinito en un junco (Siruela), y sus columnas sin volutas de El País, y sus intervenciones en el debate público, y sus tuits con savia de
honesto terciopelo.

Isabel- Série de TV.

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Isabel – Série de TV. 39 episódios, (2011-2014)

Eis uma pendência que se arrasta por mais de um ano, quando tive a oportunidade de assistir esta magnífica série. Mas a espera compensou, porque, como relato em outro lugar, após ver a série, caiu no meu colo um livro magnífico, um estudo biográfico profundo sobre a vida da Rainha da Espanha. Li o livro, encantei-me, e isso validou a série que, em outro caso, poderia ter ficado como uma elegante ficção dessa importante época histórica da península Ibérica que, por ser no século XVI, foi de fato, relevante para toda a humanidade.

Podem parecer inúmeros os detalhes e desdobramentos que a série relata, mas quando se lê o livro, reparamos que a realidade vai além da série televisiva. A vida dessa mulher singular,  que viveu 53 anos e reinou 30,  são de uma densidade tal que não há possibilidade de retratar com precisão todos os detalhes e as análises que se decorrem. Do nascimento em Madrigal das Altas Torres (província de Avila) em 1451 até a sua morte em Medina del Campo (província de Valladolid) em 1504,  contemplamos a reconquista espanhola, a unidade da coroa, a descoberta de América, as bases para o futuro Império -que Carlos, neto de Isabel comandaria- onde o sol nunca se ocultava. Enfim, uma biografia abençoada em fatos e, especialmente, em atitudes.

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Jane Austen: “Mansfield Park”

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Jane Austen: “Mansfield Park” Ed. Landmark. São Paulo, 2015 (bilingue) 482 pg.  (em português)

A introdução desta edição do romance de Jane Austen escalado para a Tertúlia Literária mensal, é importante para situar o contexto. Copio textualmente um par de parágrafos: “JANE AUSTEN (1775-1817), escritora inglesa proeminente, considerada geralmente como a segunda figura mais importante da literatura inglesa depois de Shakespeare. Ela representa o exemplo de escritora cuja vida protegida e recatada em nada reduziu a estatura e o dramatismo da sua ficção.  Uma das qualidades mais prezadas nos romances austenianos: princípios. Sem bons princípios para temperar a paixão, os resultados podem ser desastrosos, e de fato, Mansfield Park está repleto de adultério, traição e ruptura de amizades. Mas é também uma comédia dramática, com um final feliz e uma suave sátira aos costumes e maneiras da sociedade inglesa do início do século XIX, marcas intrínsecas de Jane Austen em seus romances (…) Então, por que Austen dedica um livro inteiro a uma personagem que, em muitas ocasiões, se comporta apenas como uma mera coadjuvante dentro de sua própria história?”

“Mansfield Park deve ser lido sem preconceitos ou suposições, que na verdade é um dos temas principais do livro. Quase todos em Mansfield passam ao longo de toda a trama fazendo suposições erradas sobre outras pessoas. De várias maneiras, Mansfield Park, a história tão complexamente criada por Jane Austen, torna-se a nossa própria história, quer gostemos ou não, soando um pouco como a própria vida de todos nós”

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