Um herói: Honra e Integridade perante a indiferença.
Ghahreman – Irán, 2021 Diretor: Asghar Farhadi. Amir Jadidi, Abolfazl Ebrahimi, Mohsen Tanabandeh, Sarina Farhadi, Fereshteh Sadrorafaei 127 min.
Devo confessar que o estímulo para assistir este filme foi o nome do diretor, Asghar Farhadi. Não porque eu tenha uma especial sensibilidade pelo cinema do oriente médio, mas porque já comprovei que o diretor iraniano sempre faz filmes sérios, que aprofundam e tocam a sensibilidade ocidental -a minha, sem dúvida- e imagino que também a oriental. E tudo sem perder a elegância, a classe, sem apelações, convidando o espectador a ler nas entrelinhas, sem desdobrar-se em palavreado inútil, ou em reações histriónicas, sendo seus dramas de inegável profundidade.
Deste modo Farhadi consegue pilotar atores franceses misturados com os iranianos, como em O Passado; constrói dramas de fundo oriental mas com valores universais como em A Separação, e até comanda um elenco de atores espanhóis -todos fetiche de Almodóvar, quem diria- para entregar aquele drama superior, Todos já sabem. Enfim, um diretor que prestigia suas raízes mas consegue atingir o público ocidental, e até com um cruzado de esquerda, porque te faz pensar.
Um herói, é um filme aparentemente sem pretensões. Ou melhor, um micro drama familiar que, imagino, deve ser situação não incomum na sociedade iraniana. Um homem preso porque não consegue pagar a dívida. O credor tem suas razões -afinal, cadê o dinheiro que ele me deve? – e o presidiário tem as suas, e os seus sonhos. O protagonista, Soltani, tem também um filho, doce, gago, esforçado que é um recurso delicado com o qual o diretor conecta com a compaixão ocidental. “Não quero me projetar nem instrumentalizar a gagueira do meu filho” -diz ele a certa altura.
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