RAZÃO E SENSIBILIDADE
(Sense and Sensibility) Dir: Ang Lee. Emma Thompson, Kate Winslet, Hugh Grant, Alan Rickman. 133 min.
Jane Austen está na moda. Quem diria! Aquela escritora inglesa, discreta, autora de meia dúzia de romances, que estendeu os seus 42 anos de vida em ponte de transição entre o século XVIII e o XIX. São os seus, romances inevitavelmente femininos, pois ela escrevia com o realismo de quem vive o plasmado no papel. Orgulho e preconceito, Emma, Mansfield Park, Persuasão têm na alma feminina o combustível -e o motor- do enredo. Não é diferente Sense and Sensibility, que nos chega convenientemente maquiado por Emma Thompson, entregando o roteiro já tratado, nas mãos de diretor …chinês. Bela mistura que resulta num filme de porte, fiel ao espírito do original, em corte perfeito, esbanjando estética e bom gosto. Enfim, Austen versão cinematográfica e não apenas um livro que vira filme.
Uma ressalva importante. A tradução do título é infeliz, ou melhor, equívoca. O que paira na intenção da romancista é o apaixonante estudo de um eterno equilíbrio de forças: a razão, de um lado; os sentimentos, do outro. A sensibilidade -que nos colocam no título em português- é termo inadequado: aproxima-se foneticamente mas não no conceito. Pode-se atuar de modo racional, com sensibilidade extrema. Assim como é possível ser perdidamente sentimental e carecer da tal sensibilidade. Razão e sentimentos, como fontes vitais de atuação, de postura de vida. Uma dupla via que nos aproxima do conhecimento da realidade e alimenta o nosso agir. Sensibilidade é caso particular de apreciação de situações e, por tanto, não entra no balanceamento estudado. Valha a metáfora neurológica, prosaica mas eloquente: razão e sentimentos são vias de dupla ação: além de captar a realidade -sensitivas- são também vias motoras, conduzem à ação, nos posicionam diante da vida. A sensibilidade é canal sensitivo: somente capta, não move diretamente; quando muito, apenas modula a ação. Um esclarecimento conveniente.
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