Gilles Marchand: El soldado desafinado

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Seix Barral, Planeta, 2024. Barcelona, 141 págs.

TÍTULO ORIGINAL : Le Soldat désaccordé.

Chega-me, através das críticas literárias que acompanho,  a referência deste livro -diferente e provocador. Consigo a versão digital em espanhol, não sem antes comprovar que não há -pelo menos até o momento- tradução para o português. Esse é  o meu primeiro recado, reforçado pelos comentários a seguir, também em português, com livre tradução de algumas passagens tocantes da obra. No fundo, o recado é para os editores animarem-se a tomar a iniciativa e traduzir o livro.

O autor, (Bordeaux, 1976), ganha o Prix des Libraires, com o soldado que está fora de sintonia. Uma história realista e de grande emotividade -pareceu-me a prosa poética de alguns clássicos (R. Tagore, Juan Ramón Jiménez- ambos Nobel de Literatura). Um combatente da primeira guerra mundial, ferido e aleijado na batalha do Marne (logo no início, 1914), dedica-se em tempos de paz a buscar soldados desaparecidos no conflito. Com ênfase naqueles que foram injustamente acusados de deserção, o que compromete a pensão das viúvas e das famílias. E das viúvas que lhe procuram chega até as aristocratas que se empenham em que seus filhos estão vivos.

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Ao Mestre com Carinho:  Um clássico inovador dos paradigmas educacionais

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To Sir, with Love. Diretor: James Clavell. Roteiristas. E.R. Braithwaite. James Clavell. Artistas. Sidney Poitier. Judy Geeson. Christian Roberts. Suzy Kendall. 1967 h 45 min

Voltei várias vezes sobre este filme clássico, que assisti por primeira vez há mais de 50 anos. O rosto, sério e amável, de Sidney Poitier acompanhou-me sempre na minha trajetória educacional. E, sempre, assistindo com público variado -alunos, professores, colegas- perguntei-me o porquê do sucesso. Afinal, um filme simples, de baixo orçamento, embrulhado numa canção doce e quase melosa, que transpira agradecimento a um professor que teve a coragem de encontrar soluções a novos desafios. Dos muitos filmes de professores que tive oportunidade de ver e comentar, não posso dizer que este foi o melhor, nem com mais glamour. Mas certamente, foi o primeiro. Penso que ai está o mérito, o sucesso, e o motivo que nos faz lembrar com carinho a todos os que militamos na cenário da educação.

São os anos revoltos no final da década de 60, alunos que fazem questão de não aprender nada -porque talvez nada esperam da sala de aula-, ariscos, incômodos, mal educados. Do outro lado a elegância britânica do professor, um engenheiro chegado da Guiana.

Sim, foi o primeiro a quebrar os paradigmas educacionais, para encontrar soluções. “Tentei de tudo, mas não funciona. São demônios” -comenta o professor  Thackeray, com a colega de trabalho. De repente, uma luz: joga os livros de texto no lixo, e olha para os alunos. Agora sim, novas perspectivas: Sem livros. “O que vamos estudar, do que vamos falar?” -perguntam os jovens perplexos. “Da vida, da sobrevivência, da morte, do sexo, do amor”.

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Ary Nasi: As Alcachofras do Paraiso

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Viseu, 2025. 196 págs.

O autor, colega e amigo querido, entrega-me um exemplar autografado na Noite dos Escritores que tivemos recentemente. Uma dedicatória acessa, que emociona. Abro o livro, tropeço com a frase de Ortega da qual tantas vezes temos falado -A vida nos é disparada a queima- roupa- , e a emoção cresce e me impulsiona a seguir a leitura. Assim, direto, a queima-roupa. A vida, os livros, a amizade.

E também as lembranças entranháveis: antes de entrar na vida das alcachofras, Ary faz uma homenagem a Nina, outra colega querida, que nos deixou. Relata as lembranças dos dois últimos anos antes da partida dela, cheios de detalhes, de atenção, de carinho. E aqui me senti em falta; explico com detalhe.

Eu também tive muito relacionamento com a Nina, mas foi no final da faculdade, há mais de 40 anos. Estávamos na mesma panela  do internato, dávamos plantão juntos e quando ela, já mostrando uma gravidez avançada, insistia em dividir os horários noturnos, aceitávamos…..e a enganávamos, porque nunca a acordamos no horário que lhe correspondia. Tínhamos prazer em cuidar da primeira mãe da turma. No final da sua vida, um mês antes dela partir, fez questão de participar numa reunião de raciocínio clínico, colaborando com o seu conhecimento. A distância, obviamente, com um sorriso permanente, com bom humor, enquanto o soro pingava no braço dela. Um monumento de mulher. Tive vários pacientes que ela me ajudou a cuidar e agora sentem-se órfãos. Senti-me em falta porque eu não escrevi nenhum livro sobre isso. Ainda bem que o Ary teve a iniciativa.

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Claudio Magris: Danúbio

Pablo González BlascoLivros Leave a Comment

Companhia das Letras. São Paulo. 2008. 448 págs.

Tinha separado este livro faz tempo, anos atrás. E, na época, um amigo grande leitor me advertiu: não é um livro simples, um romance, uma guia de viagem. É denso, tortuoso. Mas tem seu encanto. Tomei nota, deixei-o na estante, em compasso de espera. Uma viagem prevista, com passagem pela Europa Central, foi o gatilho para enfrentar a leitura deste que se considera a obra magna de Claudio Magris.

Vale esclarecer que Magris é um escritor e professor, nascido em Trieste -o que significa fronteira com o resto da Europa- especializado em germanismo. Danúbio é sim, o relato de uma viagem com amigos ao longo do rio que cruza Europa, mas é sobre tudo uma excelente desculpa para transpirar cultura, com muitas variações do seu próprio mundo interior. Um livro, por tanto, de não fácil leitura, onde é preciso pinçar conhecimentos, sem pretender abranger o trajeto salpicado de informações que ultrapassam o leitor comum.

Eis a overture, para fazer-se uma ideia: “O esboço é o rascunho de um estatuto para a vida, se for verdade que a existência é uma viagem, como se costuma dizer, e que atravessamos a Terra como hóspedes. De qualquer forma, mover-se é melhor do que nada: você olha pela janela do trem que atravessa a paisagem em alta velocidade, oferece o rosto ao frescor escasso que desce das árvores no calçadão enquanto se mistura às pessoas, e algo corre e atravessa seu corpo, o ar penetra em suas roupas, o eu se expande e se contrai como uma água-viva, um pouco de tinta sai do tinteiro e se dilui em um mar de tinta. Para desviar o olhar do próprio poço profundo, nada melhor do que direcioná-lo para a análise da identidade do outro, para se interessar pela realidade e pela natureza das coisas (…) Santo Agostinho estava em parte errado quando nos exortava a não sair de nós mesmos: quem permanece sempre em si mesmo, fantasia e se perde, acaba queimando incenso para algum ídolo esfumaçado que surge dos escombros de seus medos, vazio e insidioso como os pesadelos que a oração noturna convida a desaparecer”.

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Agota Kristof: Trilogia dos Gêmeos

Pablo González BlascoLivros 3 Comments

El Gran Cuaderno. Epublibre.   Editor digital: Titivillus. 125 págs..

La Prueba.  Epublibre .Editor digital: Titivillus. 126 págs.

La Tercera Mentira. Epublibre .Editor digital: Titivillus. 108 págs.

Encontrei na seção literária do jornal , um comentário sobre a Trilogia dos Gêmeos, de esta escritora húngara. Reconheço que o que tenho lido dos húngaros sempre me agradou. É o caso de Sandor Marai, ou  de  Magda Szabo, de quem li alguns livros. São intimistas, familiares, e examinam minuciosamente as personagens. Com este espírito aproximei-me desta trilogia mas o resultado não foi o mesmo. Encontro uma prosa fácil, dura, onde não se sabe muito bem se o relato é narrativo ou sonhado. Leio a versão em espanhol, por ser a que tinha disponível e traduzo aqui livremente. A verdade é que a escritora viveu fora da Hungria e escreveu toda sua obra em francês.

Os gêmeos Claus e Lucas são deixados ao cuidado da avó, que não mostra nenhum aprecio aparente por eles. Esse é o cenário do primeiro volume, O Gran Caderno, que é o mais palatável, quer dizer, onde a narrativa tem uma sequência lógica, sabe-se o que estamos contemplando. E os diálogos com a avó, peculiares, é o que permite conhecer com quem estamos lidando: a velha e, sobretudo, os garotos. “Durante o jantar, a vovó diz: 1Vocês já entenderam. Abrigo e comida têm que ser conquistados’-  Nós dizemos: ‘Não é isso. Trabalhar é difícil, mas ficar parado enquanto alguém trabalha é ainda mais difícil, especialmente se for velho’-  A vovó diz sarcasticamente: ‘Seus filhos da mãe! Quer dizer que sentem pena de mim?’ –  Não, vovó. Só temos vergonha de nós mesmos”

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George Orwell: As distopias do futuro, do passado e do presente

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“A Revolução dos Bichos”. Companhia das Letras. São Paulo. 2007 120 págs.

“1984”. Companhia das Letras, São Paulo, 2009. 383 págs.

Tropecei nas últimas semanas, com alguns artigos e comentários -incluída uma crítica de teatro- que traziam George Orwell à pauta. Foi o suficiente para retomar a leitura dos seus dois livros clássicos que, conforme parece, foram em dobradinha,  os dois livros mais vendidos nos últimos tempos: A Revolução dos Bichos, e 1984.

Orwell, um idealista nascido na Índia, no império britânico, sonhou com o socialismo, envolveu-se na revolução espanhola e se deu mal quando “a ficha caiu”. Na guerra civil espanhola, percebeu que os anarquistas estavam depurando o socialismo ideal no qual ele militava, e saiu com vida de milagre. A partir daí, voltou-se contra a ditadura soviética, e plasmou o seu pensamento nesses dois livros. Morreu em 1950, com 49 anos, pouco depois de publicar 1984.

A Revolução dos Bichos, publicado em 1945, no final da segunda guerra mundial, o cenário fictício é a rebelião dos animais -sempre oprimidos- buscando a liberação. Assim anota os gritos rebeldes: “Praticamente, da noite para o dia, poderíamos nos tornar ricos e livres. Que fazer, então? Trabalhar dia e noite, de corpo e alma, para a derrubada do gênero humano. Esta é a mensagem que eu vos trago, camaradas: rebelião (…) Fechai os ouvidos quando vos disserem que o Homem e os animais têm interesses comuns, que a prosperidade de um é a prosperidade dos outros. É tudo mentira. O Homem não busca interesses que não os dele próprio”.

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Adolescência: Um ensaio fílmico para desnudar um problema desafiante

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Adolescence. Direção: Philip Barantini. Criação e Roteiro:  Stephen Graham, Jack Thorne. Atores: Owen Cooper, Stephen Graham, Christine Tremarco, Faye Marsay, Ashley Walters, Erin Doherty, Amelie Pease. UK. 2025. 4 capítulos de 55 minutos

Já o disse em várias ocasiões. O meu gosto pelo cinema  -hoje o considero mais trabalho do que diversão-, e por sentir a necessidade de extrair ensinamentos que tornam a educação mais próxima e palatável, o que acaba cristalizando em comentários (não me atrevo a chamar críticas) coloca-me em frequentes desafios. Foi assim com esta série que está na crista da onda; é o caso destas linhas que são, como sempre, fruto da minha própria reflexão.

Nas últimas semanas, com destaque para umas reuniões de trabalho nas quais estive envolvido, encontrei-me com muitos velhos conhecidos: formadores, educadores, pensadores. Vários deles, nos intervalos, vieram me perguntar se já tinha visto Adolescência. Uma pergunta recorrente, que obviamente interpretei como um Touche….e que não me deixava opção. Assisti os quatro capítulos em duas sessões, enquanto me perguntava o que todos tinham visto na série britânica que levou a pedir a minha opinião. Porque as perguntas que me chegavam estavam embrulhadas nesse componente: junto com a recomendação, e até elogios, sempre se percebe que as pessoas querem saber o que você pensa. É o tributo, justo, de uma fama imerecida. Um desafio.

Enfrento os quatro episódios, esperando deliciar-me com uma série elegante, como muitas das que chegam com o aroma britânico. Sem dúvida, The Crown, que é do melhor que já vi até o momento; ou mesmo Downton Abbey. Mas eis que me encontro com um ensaio profundo, um mergulho desconcertante, onde a estética desparece, resta apenas o conteúdo, denso, estremecedor. Primeira dúvida que me assalta: por que a recomendação e os elogios, quando isto é um cruzado de esquerda?

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José Ortega y Gasset: Missão da Universidade

Pablo González BlascoLivros Leave a Comment

Editora UERJ. Rio de Janeiro, 1999. 129 págs.

Volto sobre esta obra clássica após quase três décadas. Lembro do entusiasmo que me provocou sua leitura quando estava concluindo o doutorado, e de que presenteei alguns dos meus mentores com um exemplar do livro. Anos depois, num mano a mano com um jovem médico que fez nosso programa de formação, escrevemos um artigo transpondo o pensamento de Ortega para a Educação médica. Nestes momentos em que me encontro envolvido na elaboração de um Programa de Pós Graduação, sinto necessidade de voltar às bases, repensar o que é, o que deveria ser a Universidade. Aqueles livros, que parece solicitarem a releitura, têm o seu momento oportuno.

Um pouco de história para centrar o tema e o livro de José Ortega y Gasset (1883-1955). Filósofo espanhol notável pela lucidez de suas ideias, Catedrático de Metafísica na Universidade de Madrid, escritor prolífico e colaborador habitual na imprensa, onde publicava muitas das suas obras e conferências. Escritor de prosa fácil, inteligível e sugestiva, é um dos maiores expoentes de filosofia espanhola e um verdadeiro paradigma entre os pensadores do século XX. No fim da década de 1920, apresentou aos alunos da Universidade de Madrid uma série de conferências que posteriormente foram transcritas e publicadas (1930, primeira edição) sob o título A missão da Universidade. Trata-se de uma exposição clara e didática dos aspectos que envolviam o ensino universitário da época. Na verdade as ideias de Ortega –como tantas realidades filosóficas- são atemporais: as questões que comenta são surpreendentemente atuais, sendo possível analisar à luz de suas considerações os problemas que enfrentam as instituições de ensino superior. As dificuldades apontadas pelo influente filósofo espanhol – assim como as que vivemos nos dias de hoje – poderiam ser resumidas em três palavras: desvio de função.

De volta às páginas do livro, que vou relendo com o mesmo entusiasmo, tropeço no início com um comentário sobre uma possível reforma universitária: “A reforma universitária não pode reduzir-se à correção dos abusos, nem mesmo consistir essencialmente na sua correção. A reforma é sempre a criação de novos usos. Os abusos são sempre de pouca importância. Um sintoma claro de que os usos constitutivos de uma instituição são corretos é que ela pode suportar uma boa quantidade de abusos sem danos notáveis, tal como um homem saudável suporta excessos que aniquilariam os fracos. Mas, ao mesmo tempo, uma instituição não pode ser constituída em bons usos se não tiver sido rigorosa e corretamente determinada na sua missão”. E a seguir, a sintonia que a Universidade deveria ter com o mundo em que vive: “A escola, como instituição normal de um país, depende muito mais do ar público em que flutua do que do ar pedagógico artificialmente produzido dentro dos seus muros. Só quando há uma equação entre a pressão de um e de outro ar é que a escola é boa”. Quer dizer, a Universidade tem de contemplar o mundo real, sem blindar-se dentro do seu recinto.

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Dietrich von Hildebrand: O Coração

Pablo González BlascoLivros 5 Comments

Cultor de Livros, S. Paulo, 2024. 199 págs.

Algum tempo atras anotei que a recente Encíclica do Papa Francisco, Dilexit-nos, dedica uma primeira parte para falar do coração humano, o que me levou a comentar um livro também lá citado, O universo religioso de Dostoievsky. Mas o tema do coração dá para muito, e revela-se particularmente importante nos dias de hoje. Dai prosseguir o estudo com esta obra clássica do pensador alemão, que enfrenta o assunto com audácia. Vale lembrar que se trata de um pensador católico, e escreve, em primeiro lugar para os que professam sua fé. Dai a defesa aberta e valente da importância do coração e da afetividade, tema que nem sempre foi contemplado pelos teólogos e filósofos católicos. Um belo complemento, no vácuo dos pensamentos do Papa Francisco.

Logo no início, Von Hildebrand adverte: “Por muitos anos, o tema das emoções, e o lado afetivo da natureza humana em geral, foi ou negligenciado pelos filósofos ou tratado superficialmente dentro do espectro de uma psicologia moral empirista que colocava os sentimentos na esfera do desejo subjetivo. Nem sempre foi assim. Se na Antiguidade razão e paixão eram contrapostas, já em Tomás de Aquino passa a existir um grau de reconhecimento e normatividade das respostas emocionais. Mesmo na filosofia de Aristóteles onde se diz na Ética a Nicómaco que ‘o homem bom não só quer o bem, mas também se regozija quando o realiza’, o coração tem um lugar rebaixado e desvalorizado”.

E continua destacando a importância da afetividade: “Uma felicidade somente pensada ou desejada (razão e vontade em ação) não é felicidade. A felicidade se torna uma palavra sem significado se a separamos do sentimento, única forma de experiência na qual pode ser vivida conscientemente”. E a seguir esclarece que “uma das razões para desvalorizar o âmbito afeito -para recusar em reconhecer ao coração uma posição análoga ao intelecto e à vontade- é identificar a afetividade com os tipos mais baixos de experiência afetiva. Consequentemente, o que se nega aos sentimentos corporais, estados emocionais ou paixões , acaba se negando também, de modo errado e injusto, a experiências afetivas como a alegria , o amor profundo, o entusiasmo nobre (….) A variedade de experiências dentro do âmbito afetivo é tão grande que seria desastroso encará-lo como algo homogêneo”.  

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André Maurois: Napoleão

Pablo González BlascoLivros 1 Comments

Ed. Salvat.  1985. 183 págs. Epublibre Editor digital: Titivillus. 2019

Consta-me que os franceses, e muitos europeus, consideraram Napoleão, o filme de Ridley Scott, uma afronta por tratar o Imperador sem respeito, como se fosse um cômico de circo ou uma personagem de gibi (palavras textuais de uma crítica que, no seu dia, chegou até mim). Assisti ao filme, e não me desagradou; aliás, encontrei momentos geniais, fora uma interpretação magnífica de Joaquin Phoenix. Um ator especializado em figuras inclassificáveis, como o Coringa, e….como Napoleão.  

Lembrei-me de uma biografia de Napoleão que li há muitos anos, de um autor alemão, Emil Ludwig, onde ficava muito claro a extravagante e genial figura do Imperador Francês. Por exemplo, quando observa a batalha do alto de um morro, e consulta o relógio comprovando que o vidro quebrou-se: “Ou minha mulher -Josefina- morreu, ou então me é infiel”. Sem mais. E continua comandando o ataque. Quer dizer, mesmo com a irritação provocada pelo filme -que recomendo- Napoleão não era um individuo previsível, by the book.

Assim sendo, decidi consultar os acadêmicos franceses, e me fiz com uma biografia de Napoleão, escrita por André Maurois, de quem ficou-me uma ótima impressão de seriedade quando li, há quase 50 anos, a biografia de Disraeli. Um francês erudito, falando de outro francês: para evitar vieses. E o primeiro que me surpreendeu foi a extensão: menos de 200 páginas e, além do mais, ilustrada. De fato -pensei- para fazer uma boa biografia, não é preciso escrever uma enciclopédia. Basta ater-se aos fatos, e encontrar as interpretações acertadas da História, e da personagem que se estuda. O exemplar que consegui é em espanhol, de modo que as citações que coloco, são em livre tradução que, imagino, não desgostariam a Maurois.

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