Paul Thureau-Dangin: “Newman Católico. A fidelidade na provação”

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Paul Thureau-Dangin: “Newman Católico. A fidelidade na provação”. Cultor de Livros. São Paulo, 2014. 138 pgs.

Newman católicoEis um livro pequeno e delicioso que agigantou notavelmente a admiração que já professava por Newman. O título o diz tudo: as provações que John Henry Newman teve de passar como católico, e que ele mesmo resume magistralmente “Como protestante, a minha religião parecia-me miserável, mas não a minha vida. E agora, como católico, a minha vida é miserável, mas não a minha religião”.

Um tema do qual pouco se fala, talvez porque é eclipsado pela trajetória da conversão deste que é um dos grandes santos ingleses. A base da obra são notas íntimas e cartas que Newman mandou entregar a modo de testamento a  Wilfrid Ward, filho de William G. Ward, discípulo de Newman em Oxford e depois, quando também converso, um opositor do seu antigo mestre por considera-lo “pouco ortodoxo” do catolicismo.

É sabido que Newman escreveu vários milhares de cartas, e de muitas guardava copia.  Um fato que não é fortuito, se lembramos o que ele mesmo sugeria como base das biografias: devem fazer-se não apenas com o relato dos fatos, mas à luz dos seus escritos, principalmente das suas cartas, onde o espírito se desnuda, e nos aparece a figura biografada na sua verdadeira dimensão. E nestas cartas e notas percebe-se algo que nos conversos é virtude rara: a ponderação, a equanimidade que leva a buscar a compreensão para com todos, seja qual for o seu credo e atitude.

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Albert Jovell. “Liderazgo Afectivo”

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Albert Jovell. “Liderazgo Afectivo”. Alienta Editorial. Barcelona. 2007. 227 pgs.

liderazgo afectivoFoi há poucos meses, durante um curso de verão, onde me convidaram para dar uma conferência. Lá conheci uma médica que dirigia uma iniciativa denominada a Universidade dos Pacientes. Depois vim a saber que se tratava da viúva deste autor –também médico, falecido de Câncer há alguns anos, após uma convivência fecunda e demorada com a doença. Fecunda, porque o processo de reflexão em que a sua moléstia lhe fez mergulhar, rendeu frutos incríveis. Entre outros, a Universidade dos Pacientes que agora dirige Maria Dolores Navarro, viúva de Albert Jovell. Conversei com ela, disse que tinha comprado há algum tempo vários livros do seu marido, e prometi que começaria a lê-los. Essa foi a largada deste interessante leitura.

O livro contém uma profusão de trabalhos científicos, principalmente de corte sociológico que apoiam as afirmações de Jovell. O autor adverte logo no início que os livros sobre liderança são na maioria histórias e opiniões, carentes de evidências científicas. Eu pessoalmente não concordo com esta opinião, por vários motivos. Por um lado, nem sempre é possível provar cientificamente os valores. Os estudos sociológicos são de corte qualitativo e, postos a ser exigentes, alguém poderia dizer que carecem de rigor estatístico. Por outro lado, há opiniões e histórias de alto poder construtivo: afinal, isso é a filosofia, e os modelos de pensamento que norteiam nossa vida. Seja como for, apesar das divergências, o trabalho de Jovell é notável. Percebe-se que o que lhe conquista são os valores –que são também na vida dele histórias e opiniões- e busca estudos para apoiá-los. Uma atitude desculpável –e louvável- num especialista em saúde pública.

Talvez por isso, o livro contém excesso de quadros e  resumos, como um manual do bom líder. Algo que me resulta pouco atraente, e penso que também ao próprio autor. Valha a desculpa de ter que “justificar cientificamente” o assunto que lhe ocupa. Para mim, não faz diferença; aliás, faz muita, porque gosto de ler os argumentos diretamente, não me importo com que sejam opiniões –cada um constrói as suas- e tiro as conclusões pertinentes. Um livro com excesso de roteiros e guidelines para conseguir atitudes –é disso que estamos falando, de uma atitude de liderança- me resulta incomodo. Mas, como tinha feito a promessa à Dolores, li os quadros em diagonal, e parti para o miolo do texto, que tem muito, e de grande aproveitamento.

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Leon Bloy: “A Mulher Pobre”

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Leon Bloy: “A Mulher Pobre”. Ed Ulisseia. Copyright by Mercure de France, 1972. 264 pgs.

a-mulher-pobreEnfrentei esta novela que um amigo me emprestou, com curiosidade armazenada de muitos anos. Todos os meus conhecimentos sobre Leon Bloy vinham de um magnífico livro que li há mais de 30 anos: “As Grandes Amizades”, de  Raissa Maritain. A autora lá  descreve as tertúlias inesquecíveis em Paris, em casa de Leon Bloy, rodeado de pensadores, filósofos e humanistas, muitos deles conversos. Como os Maritain, como o próprio Bloy.  E lá também se fala de La Femme Pauvre, como um primeiro contato com Bloy, que era o mestre e mecenas do grupo.

Disse enfrentei porque não é um livro fácil. O idioma –português de Portugal- é excessivamente rebuscado. O tema é denso, direto, contundente, explicitamente apologético, como é próprio de muitos dos escritos emanados dos conversos. Um enfrentamento quase maniqueísta entre o mal e o bem, entre a miséria e a santidade. “Sem Barrabás não há Redenção. Deus não seria digno de criar o mundo se houvera esquecido no nada a imensa Canalha que um dia o havia de crucificar”. É um modo de ver o mundo que sem deixar de ser real, carece de ternura. Prefiro o pensamento de Unamuno que vem dizer o mesmo, mas com notada elegância: “Não há maior humildade que a de um Deus que cria o mundo, e depois cria o homem para que lhe critique”.

É compreensível que aqueles que trilharam caminhos variados até a conversão, e sentiram na sua carne o compromisso da ruptura com sua anterior trajetória, não se permitam diálogo com posições dúbias. Dai a crítica contumaz à mediocridade: “Era religiosa, está visto, porque é indispensável ter uma pitada dessa coisa quando se é “gente de bem”; mas era uma religião razoável, já se deixa ver, sem exageros nem fanatismos”. Uma crítica que celebra os descalabros de quem vive pactuando com o erro: “Os factos são inexoráveis; não se apiedam; e o próprio esquecimento –se pudéssemos lograr- não poderia aniquilar o seu testemunho acabrunhante”. Compreensível, desculpável no contexto em que viviam, mas nem sempre atrativo.

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Robert Hugh Benson: “O Senhor do Mundo”

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Robert Hugh Benson:  “O Senhor do Mundo”. Cultor de Livros. São Paulo. 2013. 335 pgs.

O senhor do mundoUma nova tertúlia literária no programa de longevidade do Hospital, levou-nos até este livro. Um impacto. Alguém, no início, comentou com simplicidade: “Não li o livro, não consegui. Mas o problema devo ser eu, não o livro”. Bela postura de quem com a sabedoria da idade aprende a desconfiar das suas capacidades. Tudo o inverso do que acontece com a juventude: o problema seria sempre o livro, como o é o chefe (ate que depois do quinto emprego onde te dispensam começas a pensar que talvez o problema não seja a categoria maligna que os chefes representam, mas …eu mesmo).

Não é um livro fácil e a reação era de se esperar. A trajetória do autor  fazia suspeitar estes desafios. Benson, foi um pastor anglicano,  convertido ao Catolicismo, posteriormente ordenado sacerdote, e para maiores dados filho do arcebispo de Canterbury. Quer dizer, uma ruptura enorme incarnada numa vida. E esta vida da à luz O Senhor do Mundo. Um livro apocalíptico, que descreve os combates entre as forças do mal e Deus, o Anticristo personificado no Senhor do Mundo.

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Petros Markaris: “A Hora da Morte”

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Petros Markaris: “A Hora da Morte”. Record. Rio de Janeiro, 2008. 317 pgs.

A hora da morte“Mas, você ainda não leu nada de Markaris? Os casos policiais do Inspetor Kostas Xaritos?” Após essa exclamação, vinda de um dos meus irmãos, firmei o propósito de saldar a dívida. A troca de informações na família –seja de filmes ou livros- é uma tradição antiga, e garantida. Sempre acerta, sem dúvida porque nos conhecemos e partilhamos de muitos gostos comuns, daqueles que aprendemos a saborear na infância. Toca entrar na internet, in na estante virtual, e ver o que se oferece. E a oferta era variada, todas na coleção série negra. O policial noir versão grega, pensei. O contraponto helenista aos policiais que nas telas incarnava Bogart: Sam Spade, Philip Marlowe. Era isso mesmo.

Não tenho como avaliar o original grego, porque desconheço completamente o idioma. Mas deve se fazer notar que a tradução é primorosa: quer dizer, absolutamente verossímil, transparente;  conduz a trama, o raciocínio, e o suspense no vernáculo português sem trancos nem lombadas, suavemente. Esse é o sucesso de uma boa tradução: quando nem te lembras que o original poderia ser em outro idioma. Não é um simples detalhe, porque a magistral construção das personagens –sem dúvida obra de Markaris, que deve escrever muito bem- resulta transparente, cativante.

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Harper Lee: “O Sol é para Todos”

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Harper Lee: “O Sol é para Todos”. José Olympio Ed. Rio de Janeiro, (1988). 363 pgs.

o sol é para todosMais uma vez, as tertúlias literárias mensais brindam uma oportunidade ímpar. Não apenas para reler o clássico de Harper Lee, mas sobretudo para comentar, compartir, escutar e mergulhar nas reflexões que a boa literatura desperta.  Tudo pautado por uma primorosa tradução, até o ponto de que, em se desconhecendo a origem do texto, facilmente passaria por vernáculo. Não é pouco o mérito, pois com bastante frequência nos defrontamos com traduções que afastam do original, até repelem. Nesta ocasião, a viveza e agilidade, principalmente do linguajar da protagonista, é tremendamente verossímil. O mundo visto pelos olhos de uma criança de 8 anos impregna-se de expressões acordes ao sentir verde-amarelo.

A criança é Scout, garota precoce, o miolo do romance. Pensei –inevitável- em Mafalda, e até me perguntei sobre a possível influência no cartunista argentino, Quino, criador da personagem. Uma breve pesquisa aponta que Mafalda aparece em 1962, justamente um ano após Harper Lee ganhar o prêmio Pulitzer com o romance que agora nos ocupa. Evidentemente, são apenas conjecturas. Mas servem para nos situar.

A tertúlia literária caminhou por rumos inesperados. Houve quem disse que, já passados os 60, continuava a sentir-se como Scout, porque tinha uma criança dentro que sempre se esforçava em escutar. É o entusiasmo da criatividade, de querer fazer um mundo melhor, não apenas ingenuidade mas o desejo maduro de quem sabe possuir essa capacidade de provocar mudanças. Também houve quem comentou que depois de ter lido o livro várias vezes, somente agora reparou que Atticus Finch, o advogado pai de Scout, lembrava-lhe o próprio pai.

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Uma Boa Mentira: Virtudes humanas em estado puro. Sem vírgulas.

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The Good Lie. USA. (2014). Diretor: Philippe Falardeau.  Reese Witherspoon, Corey Stoll, Sarah Baker, Sope Aluko, Sharon Conley, Mike Pniewski, Arnold Oceng, Clifton Guterman, Ger Duany, Emmanuel Jal. 110 min. 

Uma boa mentira - capaUma lufada de ar refrescante. Imprevista. Tinha este filme nos meus arquivos, vários meses esperando. Algo tinha lido em alguma crítica: ativista americana que ajuda refugiados sudaneses. Mais do mesmo, pensei. E deixei esperando. Um dia –sempre é desse jeito- , sem pensa-lo muito (aliás, parece-me que tinha previsto assistir outro filme), coloquei-o na tela do computador, talvez até por engano. E deixei correr. Vejo jovens africanos embarcando de um campo de refugiados para América. E a seguir, em flashback, a explicação conveniente.

Imediatamente, conforme as lembranças dos protagonistas desfilam na tela, a minha memória evoca outras paralelas, vindas de um livro que li há alguns meses. Correr para viver. A história de um refugiado sudanês, que acaba se transformando em atleta olímpico em USA. O livro é sua história, e o débito que com justiça e com elegância paga a todos os que lhe ajudaram. Uma boa mentira - 7Aqui os protagonistas são outros, não parece que tenham aptidões especiais como o corredor do livro, mas evidentemente o marco histórico é o mesmo. Os meninos perdidos do Sudão, órfãos durante a guerra civil de 1983 que assolou o pais e emigraram para os campos de refugiados do Quênia. No final dos anos 90 começa o êxodo facilitado pelos Estados Unidos, que através de organizações variadas, acolhe os órfãos sudaneses. Até o 11 de Setembro, onde o processo se interrompe, por motivos de segurança. O filme –como o livro- conta uma história real, e os atores são realmente emigrados sudaneses, ou filhos daqueles. Argumento simples, atitudes humanitárias, enfim, um capítulo da história humana que carrega lamentos pelas barbaridades perpetradas e louvores para os que tentaram minimizá-las.

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Joseph Nicolosi, Linda A. Nicolosi. Cómo prevenir la homosexualidad

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Joseph Nicolosi, Linda A. Nicolosi. Cómo prevenir la homosexualidad (A Parent’s Guide to Prevening Homosexuality) Palabra. Madrid (2009). 208 págs.

Cómo prevenir la homosexualidadO livro, tradução espanhola do original em inglês, tem por autor o fundador da NARTH (National Association for Research & Therapy of Homosexuality). Esta instituição oferece psicoterapia a todos aqueles homens e mulheres homossexuais que buscam uma mudança na orientação sexual. Respeitando o direito dos indivíduos a escolher o seu próprio destino, a NARTH fundada em 1992, abre um fórum de discussão e ajuda terapêutica para aqueles que se defrontam com uma homossexualidade não desejada.

O livro recolhe a ampla experiência clínica deste  psicólogo americano e se constitui numa coleção de conselhos e advertências dirigidas principalmente aos pais. Sem entrar em polêmicas, atenta para as ações terapêuticas que, com apoio de um profissional, os pais podem praticar quando se deparam com um filho com Transtorno de Identidade de Gênero  (TIG).

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Juan Antonio Vallejo-Nágera: “Perfiles Humanos”

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Juan Antonio Vallejo-Nágera: “Perfiles Humanos”. Planeta. Barcelona. 1992. 196 pgs.

Perfiles HumanosComo o autor deixa claro no prefácio, esta obra não tem pretensões biográficas. São páginas que se leem com gosto, em cômodas prestações, como pinceladas vitais, que misturam o anedótico com momentos de relevo, de meia dúzia de  personagens históricos. Uma espécie de divertimento, a modo de variações Mozartianas, por seguir o gosto do autor, médico psiquiatra, homem de inegável cultura.

Assim, encontramos na ouverture a Lucrecia Borgia,-a filha de Rodrigo que passou a historia como o Papa Alexandre VI- e sua beleza impar pela que disputavam reis, nobres e até cardeais. A seguir, o rei Felipe III que sendo honesto e fiel, tinha como imenso lastro e desafio da sua existência, ser o sucessor de Felipe II e do Imperador Carlos V , seu avô: o peso tremendo de honrar o sobrenome familiar dos Áustrias, e manter o império onde o sol nunca se ocultava. As páginas dedicadas a Mozart –de quem o autor se confessa devoto absoluto- discorrem nos dias finais do gênio da música que rodeiam a sua precoce e misteriosa morte; a lenda do envenenamento, e da humilhante realidade: até hoje não sabemos onde estão os restos mortais de Mozart. Também os venenos mortais saem a tona nas páginas dedicadas a Napoleão, embora o protagonismo dessas notas o ocupem as extravagâncias do Imperador e as brigas com o seu carcereiro inglês, Hudson Lowe no desterro final na ilha de Santa Elena. Sem omitir várias dos muitos espasmos temperamentais de Bonaparte: pisotear chapéus ou quebrar relógios após as derrotas, e um mau humor insuportável. Lá está a exclamação de Tayllerand após sofrer uma das muitas humilhações em público, especialidade do Imperador francês: que pena que um homem tão grande esteja tão mal educado.

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O Ano mais violento: Liderança fecunda na serenidade

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(A Most Violent Year). USA, 2014. Diretor: J. C. Chandor. Oscar Isaac, Jessica Chastain, David Oyelowo, Alessandro Nivola. 125 min.

Filme - O ano mais violento - 1Dispunha-me a assistir este filme relaxadamente, sem o compromisso de buscar mensagens, ou entrever desdobramentos. Algum comentário tinha-me chegado às mãos: um bom roteiro, com elementos colocados a modo de quebra-cabeças, orquestrados por J.C. Chandor, o mesmo diretor de Margin Call- O dia antes do fim. Aquele foi um filme que me agradou. Uma trama onde, moralmente falando, ninguém se salva. Corrupção, estelionatos, aproveitadores, jovens executivos aprendendo o caminho das pedras do sucesso. O mal caminho, entenda-se. Como tirar partido dos outros para sair triunfadores. E um cinismo blindado a qualquer possibilidade de compaixão pelas necessidades alheias. O preço de cada homem. E no final, a decepção, o vazio, a solidão.

Sob a batuta do mesmo diretor, e tratando-se de um empresário de sucesso acossado pela concorrência desleal, imaginei que seria uma variante sobre o mesmo tema. De fato, a trama de fundo é exatamente essa. O amplo repertório de ações espúrias que os concorrentes –e o poder constituído- empregam na tentativa de tirar do meio um imigrante empreendedor, que triunfa no seu negócio. Mas com tudo o que isso pode ter de interessante –e atualíssimo!!!- não seria motivo para sentar e escrever estas linhas. Divulgar e comentar o que não funciona, colocar a lama da corrupção no ventilador, não me atrai. É mais do mesmo, semelhante ao que todos os dias inunda nossas redes sociais. Nada disso me impulsionaria a compartilhar com os possíveis leitores, as reflexões que se acumulavam na mente e no coração enquanto assistia o filme.

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