Medicina e Pessoa Humana
Uma medicina técnica, institucional e despersonalizada
Faça o download do artigo em formato PDF
Em nosso tempo, presidido por uma medicina altamente técnica, a prestação de serviços compete, em geral, às instituições – sejam elas públicas ou privadas – e, conseqüentemente, de perfil cada vez mais impessoal. A relação médico-paciente, essência da prática médica, dificilmente encontra espaço neste universo. Caminha-se, fatalmente, para uma despersonalização da medicina. Aqui está, em poucas palavras, o cerne da questão que emerge com evidência quando contemplamos o panorama que o atendimento médico nos oferece neste final de século.
Essa é a questão e o problema, se é que de um problema se trata. A nossa tarefa não consiste tanto em encontrar os culpados – que, a rigor, não existem com consciência culpável – como em achar soluções para recuperar a base da arte médica. Cabe, no entanto, uma análise breve das razões que conduziram a medicina – e com ela os médicos – a esta condição que, curiosamente, parece não preencher as necessidades básicas do paciente. Afinal, é com ele que está a palavra e o juízo de valor: se a prática médica não satisfaz o indivíduo doente pode ser útil para muitas coisas mas, falando com propriedade, aquilo não será medicina.
Vivemos tempos de progresso tecnológico vertiginoso; as novidades e descobertas sucedem-se em ritmo onde os dias são medida insuficiente, devendo se recorrer aos minutos para registrar os avanços da técnica. O aumento do volume de conhecimento requer, para sua correta administração, a necessária divisão técnica. Surgem as especialidades, as sub-especialidades, as micro-especialidades, uma tentativa de armazenar o progresso, de catalogar os recursos para, estudados com profundidade, poder depois prestar um serviço altamente especializado e eficaz. Nunca foi mais evidente que os sonhos de “enciclopedismo”, em tentativa frustrada de reunir o conhecimento vigente da época presente, são hoje postura anacrônica quando não ingênua. O progresso é uma realidade incontestável. Os especialistas e super-especialistas são o fruto natural desse contexto.