Um ato de liberdade: O coração de um líder

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Há filmes ótimos que passam totalmente despercebidos do grande público. Não sei por quê. Parece até que são tacitamente sabotados pela mídia. Um ato de liberdade é um deles. Tive oportunidade de assisti–lo antes de entrar em cartaz, num avião, fora do País. Depois, quando fui alinhavando ideias para escrever sobre ele, busquei-o na programação dos cinemas e o encontrei encostado num canto, sem nenhuma estrela – não digo poucas, mas nenhuma estrela, totalmente ignorado –, alocado em pouquíssimas salas de cinema da Cidade, em horários completamente esdrúxulos. Esta era a situação quando fazia apenas três semanas que estava em cartaz. Um despropósito!Perguntei aos amigos e comentei com colegas. Ninguém o conhecia. Por que o silêncio? Talvez porque estejamos cansados de filmes sobre o holocausto, embora, neste caso, o tema fosse justamente o contrário: o jeito de safar–se do holocausto. Talvez porque o protagonista – encarnado por Daniel Craig – não tenha conseguido se desvencilhar da imagem de 007 que lhe foi emplacada nos últimos dois filmes do agente britânico. Ou simplesmente porque Hollywood não anda tendo muita coisa nova a oferecer. Ou então porque o filme não seja politicamente correto, embora nos tempos em que vivemos seja cada dia mais difícil atinar com o significado exato desta consagrada expressão e fazê–la compatível com o respeito às minorias, com a responsabilidade social e a solidariedade ecológica. Confesso que são tantos os parâmetros do “politicamente correto” que é muita areia para o meu caminhão!A verdade é que eu já vinha seguindo a pista do filme, desde que tive ocasião de ler um comentário em certa publicação estrangeira. O filme não foi nenhuma supressa e, pensando bem, a reação – o silêncio da mídia – também não o foi. Edward Zwick é um diretor forte, com temática centrada: a liderança na adversidade. Seu currículo fala por si: Tempos de Gloria, Coragem sob Fogo, O Último Samurai, e o recente Diamante de sangue. Leia mais

Gran Torino: A liderança de si próprio

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(Gran Torino) . Diretor: Clint Eastwood. Clint Eastwood, Bee Vang, Ahney Her, Christopher Carley, John Carroll Lynch. 116 min.

gran-torino_1“Um filme onde Clint Eastwood, o machão de ‘Dirty Harry’ e ‘Magnum 44’, acerta as contas com ele mesmo”. Esse era o tom das manchetes quando o filme entrou em cartaz. Mais uma vez, porém, fui obrigado a discordar das críticas repletas de lugares-comuns, prontas para serem consumidas por um público em que a superficialidade reina soberana, e que por isso mesmo engole qualquer comentário simplista.A verdade, no entanto, é outra. Há tempos Clint Eastwood vem arrumando as próprias contas e nos surpreendendo com filmes ótimos, de sensibilidade delicada, tais como “Cartas de Iwo Jima”, “Sobre Meninos e Lobos”, “A Troca”, dentre outros. Longe ficou aquela figura do policial durão, do sexista – como se diz hoje, em rasgado anglicismo – para surgir o homem maduro, o cavalheiro, que sintoniza com o universo feminino e não teme transparecer os próprios sentimentos. É bem verdade que esse percurso de ajuste de contas teve suas idas e vindas, sobretudo quando Clint entra em cena. É o egoísmo que se disfarça de compaixão em “Menina de Ouro”, incapaz de suportar o sofrimento, não tanto o alheio quanto o próprio. É o romance impossível que transpassa e marca para sempre a vida da mulher rural em “As pontes de Madison”, onde o diretor-ator demonstra notável conhecimento dos sentimentos femininos; verdadeiro ensaio que busca contestar o provérbio “ninguém entende as mulheres”: “Um momento” – parece dizer o fotógrafo das pontes de Madison – “eu as entendo!”. E, para demonstrá-lo, conduz Meryl Streep a construir a inesquecível “Francesca”. São tentativas vitais de quem aposentou as armas do justiceiro implacável – do “eu-resolvo-tudo” –, e quer olhar o interior do ser humano, com respeito, buscando apenas aprender. Talvez seja por isso que Eastwood demore a voltar em cena e fique atrás das câmaras, dirigindo – quer dizer, tentando entender os bastidores da alma humana. Agora, porém, entra novamente em ação, apesar de avisar que será seu último filme como ator. Eu tenho cá minhas dúvidas…Leia mais

Australia: Um filme como os de antigamente

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australia_1(Australia) Diretor: Baz Luhrmann. Nicole Kidman, Hugh Jackman, David Wenham, Bryan Brown, Bruce Spence. 165 min. Já faz algum tempo que assistir a um bom filme me dá muito trabalho. Talvez seja por isso que as mais das vezes hesito fazê-lo, assim, de bate pronto, sem antes me preparar psicologicamente. Dá trabalho porque sempre acabo despendendo razoável esforço para tentar descobrir as entrelinhas dos diálogos, das cenas, da trama como um todo, para depois poder lhes escrever a respeito, fazendo do Cinema uma espécie de arco voltaico, que por meio de um elo incandescente liga idéias, vivências, sonhos, valores. Sim, o Cinema pode iluminar a vida, a qual, embora não seja arte, desta se alimenta. Vida que temos de viver diariamente, em branco e preto, cansativa, pontilhada de rotinas insípidas. Cabe a nós descobrir o sabor único e insubstituível de cada minuto que nos é dado viver. Quando me acomodei para assistir Austrália, nenhum desses pensamentos ocupava a minha mente. Tudo indicava que desta vez seria diferente, que se tratava apenas de assistir a mais um filme, sem compromissos nem ulteriores desdobramentos, sem esforços, tampouco preocupações de monta. Ao menos era o que pensava enquanto me dispunha a desfrutar um filme de três horas.“Um filme como os de antigamente”, li em comentário de certa revista estrangeira, que me caiu às mãos semanas atrás. “Um longa metragem”, “um épico”, “a construção de uma cultura”. Lembrei-me de “Assim caminha a humanidade”, dos tempos em que o Texas testava novas riquezas para as somar ao já abundante gado. O petróleo. Com ele, James Dean, medindo a passos largos as terras que lhe couberam. E pensei que a qualquer momento lá poderiam aparecer Rock Hudson, Liz Taylor. E até o próprio Dean, o garoto fatal, que não viu estrear o filme porque sucumbiu sob a velocidade irresponsável que seus 24 anos imprimiram ao Porshe que dirigia.Leia mais

Cristovão Tezza ; “O Filho Eterno”. Record. Rio de Janeiro. 2007. 224 pgs.

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cristov_o_Tezza_4O autor, um homem cheio de idéias, de lembranças, e com uma cultura assimilada, escreve este livro magnífico para ajustar as contas com ele mesmo. Quem 26 anos atrás se viu surpreendido –atraiçoado, talvez- pelo nascimento de um filho mongolóide, e para quem o único consolo era pensar que uma criança assim viveria pouco e ele recuperaria sua liberdade, hoje reconhece que não consegue viver sem ele. Um livro direto, com uma dureza fina e elegante –em primeiro lugar contra ele, autor- aonde o pequeno Felipe vai conquistando seu espaço, na agenda e no coração deste professor de letras na Universidade de Curitiba. Escreve fácil, direto, sem tapumes; muitas idéias, mas se torna claro na síntese das palavras. Um estilo que evoca as frases inacabadas de Guimarães Rosa, a prosa crua de Saramago, mas com uma enorme diferença: abre-se à esperança. Mesmo que o autor não queira reconhecê-lo. De fato, não dá espaço para sentimentalismos, porque ficaria encabulado. Disfarça bem, mas tem um coração enorme, é certamente um homem de bem.

A Troca: A Serena Liderança das Mulheres

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(Changeling). Diretor : Clint Eastwood. Atores: Angelina Jolie, John Malkovich, Jeffrey Donovan, Michael Kelly, Colm Feore, Jason Butler Harner, Amy Ryan. 140 min.
Acabam de sair as indicações para o Oscar de 2009. Não assisti à maioria dos filmes indicados, mas este – a que assisti e admirei – é um grande ausente da lista. Não haveria como deixar de fora Angelina Jolie, que inunda a tela com a personagem que é o filme, todo ele, em cada um de seus fotogramas. Fora isso, o silêncio. A direção por conta de Clint Eastwood – cada vez melhor, infinitamente melhor – não foi contemplada. É uma história real, enfatizam alguns, tentando assim diminuir o mérito da obra de arte, o que equivaleria a dizer, por exemplo, que os retratos de Rembrandt ou de Velásquez não teriam valor porque espelham pessoas reais… Uma boa história real deve não apenas ser encontrada, como sobretudo contada. Bem contada. É o que faz com muita elegância Eastwood, preparando com suavidade o terreno para que “Christine” – a nossa Angelina Jolie – desfile com imensa classe. Os demais são coadjuvantes – um decorado de imenso bom gosto oportunamente colocado pelo diretor. É trabalho – insisto – de primeira categoria. Estamos em 1928, em Los Angeles, Califórnia. Christine Collins é mãe solitária, porque o pai do rapaz – diz-se no filme – “não quis assumir o pacote que lhe chegou junto com o filho, um pacote que continha responsabilidade”. Trabalhadora, competente, vive para o filho, que subitamente desaparece. A polícia de Los Angeles, que divide os lucros da corrupção escandalosa com os políticos de plantão, traz de volta um rapaz e o entrega a Christine. Ocorre que este não é o seu filho, e como a polícia quer tirar o morto de cima (não há dito popular mais perfeito para a situação), dá o caso por encerrado, atribuindo o não-reconhecimento pela mãe às emoções e maus tratos sofridos pelo rapaz. Mas Christine, demonstrando uma perseverança gigantesca, não cessa de reclamar o seu verdadeiro Walter de volta. Esta é a história do filme, uma situação absurda que se amplifica quando se lembra que se trata de história real. Mas o encanto da fita é outro: o poder de liderança serena de Christine que, no seu empenho de mãe, contribui para mudar a sociedade que a rodeia. John Malkovich dá vida ao Reverendo Briegleb, um Pastor que devota seus melhores esforços a combater a corrupção das autoridades de Los Angeles, e a defender o seu rebanho de fieis das garras desses bandidos: “Fiz da luta contra a corrupção a missão da minha vida – diz à Christine, no intuito de ajudá-la. Ela, sempre discreta, sabe se colocar em sua posição, e diz: “Eu não tenho missão, reverendo. Eu somente quero o meu filho de volta”. Essa mulher aparentemente sem missão, que busca o concreto, acabará removendo a sociedade, desmascarando injustiças, ajudando as pessoas que cruzam seu caminho com uma eficácia contundente. Em nossos dias, a palavra missão encontra-se muito desgastada. Eu, pelo menos, estou farto dela. Trazia algum sentido quando antes se entendia por “missão” algo que imprimia rumo à totalidade da vida da pessoa. Missão seria – para usar uma linguagem atual – a operacionalização da vocação de cada um, seu “modus vivendi”. Hoje, o termo “missão” não passa de título de uma frase de efeito que as empresas penduram entre molduras no hall de entrada, buscando com isso impressionar os clientes e fazê-los crer que os membros daquela organização sempre se pautam por valores nobres. Nada além de um refrão de significado confuso, repleto de chavões, que o mundo corporativo utiliza como cartão de visitas.Da missão – a qual nos animam a cumprir como se a empresa para a qual trabalhamos fosse um time (“onde você é muito especial”, dizem; todos somos especiais nestas horas…) – passa-se à “visão”, que asseguram ser o contorno de um novo mundo. Outro golpe de efeito. E assim nos perdemos em palavras sem sentido, em “missões” que nos ocupam durante o horário comercial, com direito a bônus e dividendos, e que facilmente esquecemos diante da primeira oferta de emprego tentadora. É deste modo, com nomes atualíssimos e globalizados, como o mundo corporativo abocanha as palavras que significavam atitudes vitais, e as suga até deixá-las empalhadas, sem vida, de plástico. De grife, certamente, mas de plástico. Perdemo-nos em reuniões estratégicas, em projetos de gestão, em retiros corporativos e encontros motivacionais, mas deixamos de abordar o verdadeiro núcleo da questão: o compromisso, único elemento capaz de retomar para valer a verdadeira missão de vida de cada um. Os diagnósticos dos problemas são periféricos e recaem sobre processos que se julgam deficientes. Daí vem a luta pela certificação, a obsessão pela qualidade. Surgem as comissões e as consultorias, apuram-se detalhadamente os passos dos assim chamados “processos”, qualificam-se as instituições. Mas nas pessoas, nessas nunca se toca. Não que falte boa vontade em tudo isto; falta, sim, profundidade, sobrando, talvez, muita ingenuidade, pois se busca suprir no sistema o que, no final das contas, é falha individual – da pessoa, de cada um de nós – a qual deve ser sanada com compromisso e responsabilidade pessoais. Vem à lembrança certa ocasião onde me convidaram para dar uma palestra sobre planejamento e sentido da vida no mundo corporativo. Viajei com o amigo que facilitou o meu contato à empresa organizadora. O evento ocorria num resort de alto luxo, no sul do País. Enquanto alinhavava as idéias para a conferência, comentei a esse amigo que, embora eu tivesse certo domínio do tema, por estar envolvido em tarefas de formação de pessoas, pouco conhecia acerca do “outro lado”, isto é, do mundo corporativo. Ele me olhou, sorriu, e disse: “Vou te contar um segredo. Esse “outro lado” não existe. É pura fachada. Fale de coração aberto, dê o recado e deixe o pessoal pensando”. Foi um alívio. E um aprendizado que me abriu os olhos. Não parece que tudo isso se reverta fácil e rapidamente, mas a postura de Christine Collins no filme trouxe nova luz ao tema: “Não tenho missão, apenas quero meu filho de volta”. É o amor pelo concreto, pela pessoa, donde arranca a liderança das mulheres. E através dessa liderança – perfeitamente centrada na questão que lhes ocupa – é como conseguem dissecar as situações, revelar as verdades e fazer da ética um elemento doméstico e quotidiano. Exemplos? Uma infinidade. Minha professora no primário, que sem deixar de elogiar as esmolas que as crianças (com a ajuda dos respectivos pais, naturalmente) davam para os esfomeados da África, costumava sugerir antes do recreio: “Além das esmolas, dividam com o colega o lanche que vocês têm na mochila. As crianças famintas da África estão um pouco longe, mas o coleguinha está logo ai”. Ou então a minha avó, grande mulher, que quando ouvia falar de feminismo dizia: “Vamos com calma, que eu não pretendo dirigir caminhão!”. Parece que o início das mudanças para acabar com as hipocrisias corporativas poderia partir do que uma aluna me dizia, em certa ocasião: “Eu não quero que a faculdade me faça esquecer o que aprendi com a minha avó”. O amor delicado pelo caso concreto é sabedoria feminina, torna diáfano o caminho do compromisso, e até parece facilitá-lo. Faz muitos anos, elogiei uma paciente pela família maravilhosa que tinha. “Agora sim, doutor. Mas, quando nasceu meu quarto filho, o meu marido – o marido estava fora, na sala de espera de meu consultório, enquanto eu a atendia – chegava todos os dias de madrugada. Eu, sempre arrumada, a mesa posta, esperando ele chegar: ‘Você deve estar cansado, meu bem; vamos jantar’, dizia-lhe. E assim dias, semanas, meses. Um dia, na cama, pensou que eu estivesse dormindo, suspirou e disse em voz alta: ‘Sou uma besta. Não sabia a mulher que eu tinha’. Depois disso, ele nunca mais chegou tarde”, concluiu. E ainda acrescentou: “Doutor” – bateu na mesa e se aproximou de mim, dizendo: “mulher que se preza coloca o homem na linha!”. Gosto pelo concreto, dar nome aos bois. Faz algumas semanas participei de uma reunião com a Diretoria de um hospital. Problemas que surgem, equipes médicas que não acabam de se acertar, processos pouco claros. Uma das médicas – a mais jovem da equipe – pediu a palavra. Com delicadeza, mas de modo claro, verbalizou o que todos estávamos pensando, mas ninguém dizia: “O que falta é compromisso. Precisamos de profissionais que assumam os problemas, que não os empurrem com a barriga. As pessoas não querem se comprometer, e desse modo não vamos a lugar nenhum”. A reunião continuou, tomaram-se decisões, falou-se duro e, no final, a colega foi elogiada pelo Superintendente, que agradeceu a sua sinceridade que facilitou a todos o caminho. Ortega, em seu ensaio “Estudos sobre o Amor”, rende homenagem à sabedoria feminina, apostando nela para melhorar o mundo. Diz o filósofo numa passagem visionária: “Se algumas dúzias de mulheres, habilmente colocadas na sociedade, educaram sua personalidade até fazer dela um perfeito diapasão de humanidade, um instrumento de sensibilidade para formas de vida melhor, conseguirão mais do que todos os pedagogos e os políticos. A mulher exigente fará com que o coração dos homens bata em novo ritmo, despertará ideais inesperados nas suas cabeças, novas ambições e projetos, a existência toda marchará em cadência ascendente e o país onde esse feminismo apareça florescerá triunfante uma histórica primavera, toda uma vida nova”. São esses os resultados que Christine consegue na sua busca, decidida e comprometida, para recuperar seu filho Walter.Esse é o grande recado de um filme belíssimo, que é também duro e cru. Mas a esperança invencível de Christine é contagiante. Talvez porque seja mulher elegante, discreta, encantadora. Ou porque até se torna parecida com Claudette Colbert, que protagoniza o filme pelo qual Christine torce, e que acaba ganhando o Oscar. Uma homenagem de Eastwood a Frank Capra e ao cinema. “Aconteceu naquela noite” conquistou todos os prêmios do Oscar de 1934: melhor filme, diretor e atores. Clark Gable levou o seu, enquanto estendia os cobertores – as muralhas de Jericó – entre as duas camas do quarto do hotel. E também Claudette, elegantíssima e objetiva, que levanta discretamente a saia para conseguir a carona que lhe permite fugir. O Oscar que “A Troca” não levará, Clint Eastwood o credita àquele filme encantador, a todas as mulheres que Christine representa, e a esperança de uma sociedade melhor, fruto da serena liderança feminina. Esse sim é um Oscar “honoris causa”.

Benjamin P. Thomas: “Abraham Lincoln”. Aster. Lisboa. 1952. 540 pgs.

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Benjamin P Thomas - Abraham LincolnDespretensiosa biografia de Lincoln que sem adentrar-se excessivamente nos aspectos psicológicos –e Lincoln oferecia um temperamento que é um prato cheio para esses estudos- e fornecendo grande quantidade de dados, especialmente da guerra civil americana (1860-1865) oferece um perfil razoável do presidente americano. Preservar a União, manter os Estados Unidos como um país único, e garantir a liberdade constitucional para qualquer cidadão –incluído os negros- são aspectos bem destacados nesta obra. Lincoln é de fato o artífice real da abolição da escravatura nos EEUU. Um homem que desde a sua eleição (novembro 1860) até a sua morte (abril 1865, recém re-eleito) esteve envolvido no conflito da secessão que soube conduzir com liderança, mão firme, sem revanchismo, e com bondade e afeto. Um verdadeiro símbolo, com toda a razão, para o povo americano e para a história.

“Bella: O poder de fogo da família”

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Bella (2006). Diretor: Alejando Gómez Monteverde.Atores: Eduardo Verástegui. Tammy Blanchard, Manny Perez. 91 min

bella_2Quando me pedem a opinião sobre um filme que ainda não assisti, já sei que mais cedo ou mais tarde acabarei assistindo. É questão de tempo e oportunidade. Não consigo resistir; aliás, para ser franco, nem tento fazê-lo. Afinal, quem ergue a bandeira de que o cinema educa deve manter-se atento às novidades. Assim ocorreu com “Bella”. Houve perguntas e também comentários que incluíam o ator, Eduardo Verástegui, um cantor e ator mexicano que sofreu um processo de conversão espiritual e milita entre os “Pro Life”. Parece que há uma entrevista com ele, divulgada pela EWTN, a emissora da Madre Angélica, essa surpreendente freira de clausura do Alabama, que no dizer de alguns teria créditos para ser a santa padroeira dos CEOs . De fato, tive oportunidade de ler uma biografia de Mother Angélica, quando acabei me tornando seu fã incondicional – dessa mulher que alia capacidade de gestão e empreendedorismo incomuns, sob o amálgama de gigantesca personalidade espiritual. A santidade, o senso comum e a voz de comando lhe saem pelos poros. Leia mais

“Apenas uma vez”: a música que nos cura

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(Once) Director: John Carney Atores: Glen Hansard, Marketa Irglova, 85 min. Fui criado num lar onde se amava o cinema. Não o aspecto acadêmico do cinema – o amor dos cinéfilos –, mas as possibilidades que o cinema nos oferece para conhecermos melhor a vida, o mundo, as pessoas. Entendíamo-nos através de filmes, éramos corrigidos com frases de filmes, estimulados com situações e valores que os filmes – a que assistíamos juntos, muitas vezes de pijama – nos brindavam. Na minha família, o cinema era uma linguagem habitual. Hoje, quarenta anos depois, estamos todos envolvidos, de alguma forma, com temas de educação – talvez por culpa do cinema –, de tal modo que evocamos e utilizamos o cinema para formar os outros, tal qual nós fomos formados. Agora estamos entrando na quarta geração, e o cinema continua sendo um amor da família. No mês passado, tive oportunidade de estar com os meus irmãos que vivem na Europa, e vários deles me falaram de “Once” como “um filme necessário”. Consta-me que um deles organizou uma sessão familiar para assistir ao filme com meus sobrinhos, porque ao cinema – entendido como nós o entendemos – deve-se assistir em família. Voltei ao Brasil com a pulga atrás da orelha, como se diz, mas também com muito trabalho pendente, de modo que a curiosidade acabou se aquietando um pouco, antes que surgisse a ocasião de ver o filme. Mas a ocasião, finalmente, surgiu, na semana passada, quando entrei na locadora de um amigo. Aproximei-me da prateleira para ver as novidades, até que pude ler o título “Apenas uma vez”. Como estivesse sem óculos, afastei um pouco a capa do DVD para conseguir ler o titulo original. Lá estava: “Once”. Peguei-o e saí, sem prestar muita atenção no que o balconista me dizia sobre o filme. Provavelmente, algumas frases-chavão que a gente sempre interpreta com o pensamento daquele cantor de tangos: “Isso o dirás a todos…” De cara, vê-se que o filme não é bem um filme. Quer dizer, não é algo cinematográfico. Logo no início já cheira a documentário: câmara solta, sem cortes, sem primeiros planos… “O que será isto?” – perguntei-me, enquanto na tela um figurante – não parecia ser ator; pelo menos representava muito bem não sê-lo – tocava violão na rua, e agradecia as moedas que os passantes depositavam na capa do instrumento. “Não será que esse filme não passa de um videoclipe, de um mero cenário-pretexto para ‘rolar’ rocks e outras canções que a molecada gosta?” – pensei comigo, sentindo que talvez estivesse ficando velho… Acomodei-me na poltrona, sem grandes expectativas, e confesso que duvidei da recomendação familiar. Minha sintonia é outra… Leia mais

Batman – O Cavaleiro das Trevas: um líder sem férias

Pablo González Blasco Filmes 3 Comments

(Batman – The Dark Knight) Diretor: Christopher Nolan. Atores: Christian Bale, Morgan Freeman, Michael Caine, Aron Eckart, Heath Ledger, Maggie Gyllenhal. 152 minutos.
Duas semanas em cartaz e mais de dois milhões de expectadores. Houve quem conseguisse comprar os últimos ingressos – aqueles que dão “direito” à primeira fileira e ficar com o nariz colado à tela – mas preferiu sentar-se lá em cima, no chão do corredor, para não perder o visual da estréia. Muitos jovens, alguns nem tanto, como aquele senhor que comentava entusiasmado na saída: “Você viu isso? Fantástico! Até que o ingresso a dezessete reais é ridículo. Bem que o Brasil precisava de uns quatro ou cinco batmans, principalmente em Brasília. Quem sabe dariam um jeito nessa corrupção que nos envergonha”. Fui reunindo os comentários que me chegavam nos dias que se seguiram ao lançamento do filme. Em todos os lugares, no ambiente profissional, nos hospitais onde trabalho – médicos, pacientes, funcionários – todos tinham Batman na ponta da língua. Lembrei-me de George Lucas, quando lá nos idos de 1976 contemplava a reação do público que tinha acabado de assistir a estreia de “Guerra nas Estrelas”. Parece que estava num bar, sentado, à frente do cinema. Vendo a multidão que saia vibrando, confirmou o que já desconfiava: as pessoas gostam de ver o bem e o mal convenientemente delimitados. “É como um faroeste, só que nas galáxias” – declarou à imprensa, na época. “A verdade é que todos nós gostamos que o mocinho ganhe. Leia mais

A luta pela esperança. O exemplo que nos faz sobreviver

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luta_esperanca2Cinderella Man. Diretor: Ron Howard. Atores: Russell Crowe, Renée Zellweger, Paul Giamatti. 144 minutos. Assisti a este filme já faz algum tempo. Provavelmente, um par de anos atrás. Mas nos últimos meses, por algum motivo, ele me veio à mente com insistência. Acudiam à lembrança as cenas do filme, sobretudo o título – a esperança –, que bem vale uma luta. A história lembra os filmes dos anos 30-40, aqueles que Frank Capra dirigia com seu otimismo à prova de bomba, empurrando os americanos a acreditarem no seu próprio país. Anos de depressão econômica, seguidos de guerras. O nosso filme situa-se exatamente nessa mesma época. Jim Braddock – encarnado no polivalente ator Russell Crowe – é um boxeador com futuro. Estamos no final da década de 20. Escasseiam os alimentos, também as lutas, e o nosso lutador, para sobreviver, parte para os “bicos” mal pagos das docas. O ambiente é o de sempre. Lembram-se de Marlon Brando, em “Sindicato de Ladrões”, com aquele olhar tímido? É o mesmo entorno, só que desta vez em cores. Surge uma chance, e Jim volta a lutar, porque não lhe resta outro remédio: “Agora eu sei pelo que estou lutando” – declara na roda de imprensa. “Por quê?” – pergunta um jornalista. “Leite!” – responde Jim. Luta para ganhar o sustento dos seus. Mas como sabe lutar, ama sua profissão e pensa na família. O que era obrigação transformar-se em oportunidade, e vai galgando postos até enfrentar o campeão mundial dos pesos pesados. O homem que surge de baixo, do povo, o maltrapilho de New Jersey, mostra a seus iguais – ao povo que tenta sobrevier na miséria – uma luz no fim do túnel, uma verdadeira porta para a esperança: “Se Jim Braddock consegue, talvez nós tenhamos também uma chance na vida” – parecem dizer os que por ele torcem. A imprensa faz-se eco dessas expectativas e começa a apelidá-lo “Cinderella Man” (o homem-cinderela) – título do filme em inglês.

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