A Troca: A Serena Liderança das Mulheres

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(Changeling). Diretor : Clint Eastwood. Atores: Angelina Jolie, John Malkovich, Jeffrey Donovan, Michael Kelly, Colm Feore, Jason Butler Harner, Amy Ryan. 140 min.
Acabam de sair as indicações para o Oscar de 2009. Não assisti à maioria dos filmes indicados, mas este – a que assisti e admirei – é um grande ausente da lista. Não haveria como deixar de fora Angelina Jolie, que inunda a tela com a personagem que é o filme, todo ele, em cada um de seus fotogramas. Fora isso, o silêncio. A direção por conta de Clint Eastwood – cada vez melhor, infinitamente melhor – não foi contemplada. É uma história real, enfatizam alguns, tentando assim diminuir o mérito da obra de arte, o que equivaleria a dizer, por exemplo, que os retratos de Rembrandt ou de Velásquez não teriam valor porque espelham pessoas reais… Uma boa história real deve não apenas ser encontrada, como sobretudo contada. Bem contada. É o que faz com muita elegância Eastwood, preparando com suavidade o terreno para que “Christine” – a nossa Angelina Jolie – desfile com imensa classe. Os demais são coadjuvantes – um decorado de imenso bom gosto oportunamente colocado pelo diretor. É trabalho – insisto – de primeira categoria. Estamos em 1928, em Los Angeles, Califórnia. Christine Collins é mãe solitária, porque o pai do rapaz – diz-se no filme – “não quis assumir o pacote que lhe chegou junto com o filho, um pacote que continha responsabilidade”. Trabalhadora, competente, vive para o filho, que subitamente desaparece. A polícia de Los Angeles, que divide os lucros da corrupção escandalosa com os políticos de plantão, traz de volta um rapaz e o entrega a Christine. Ocorre que este não é o seu filho, e como a polícia quer tirar o morto de cima (não há dito popular mais perfeito para a situação), dá o caso por encerrado, atribuindo o não-reconhecimento pela mãe às emoções e maus tratos sofridos pelo rapaz. Mas Christine, demonstrando uma perseverança gigantesca, não cessa de reclamar o seu verdadeiro Walter de volta. Esta é a história do filme, uma situação absurda que se amplifica quando se lembra que se trata de história real. Mas o encanto da fita é outro: o poder de liderança serena de Christine que, no seu empenho de mãe, contribui para mudar a sociedade que a rodeia. John Malkovich dá vida ao Reverendo Briegleb, um Pastor que devota seus melhores esforços a combater a corrupção das autoridades de Los Angeles, e a defender o seu rebanho de fieis das garras desses bandidos: “Fiz da luta contra a corrupção a missão da minha vida – diz à Christine, no intuito de ajudá-la. Ela, sempre discreta, sabe se colocar em sua posição, e diz: “Eu não tenho missão, reverendo. Eu somente quero o meu filho de volta”. Essa mulher aparentemente sem missão, que busca o concreto, acabará removendo a sociedade, desmascarando injustiças, ajudando as pessoas que cruzam seu caminho com uma eficácia contundente. Em nossos dias, a palavra missão encontra-se muito desgastada. Eu, pelo menos, estou farto dela. Trazia algum sentido quando antes se entendia por “missão” algo que imprimia rumo à totalidade da vida da pessoa. Missão seria – para usar uma linguagem atual – a operacionalização da vocação de cada um, seu “modus vivendi”. Hoje, o termo “missão” não passa de título de uma frase de efeito que as empresas penduram entre molduras no hall de entrada, buscando com isso impressionar os clientes e fazê-los crer que os membros daquela organização sempre se pautam por valores nobres. Nada além de um refrão de significado confuso, repleto de chavões, que o mundo corporativo utiliza como cartão de visitas.Da missão – a qual nos animam a cumprir como se a empresa para a qual trabalhamos fosse um time (“onde você é muito especial”, dizem; todos somos especiais nestas horas…) – passa-se à “visão”, que asseguram ser o contorno de um novo mundo. Outro golpe de efeito. E assim nos perdemos em palavras sem sentido, em “missões” que nos ocupam durante o horário comercial, com direito a bônus e dividendos, e que facilmente esquecemos diante da primeira oferta de emprego tentadora. É deste modo, com nomes atualíssimos e globalizados, como o mundo corporativo abocanha as palavras que significavam atitudes vitais, e as suga até deixá-las empalhadas, sem vida, de plástico. De grife, certamente, mas de plástico. Perdemo-nos em reuniões estratégicas, em projetos de gestão, em retiros corporativos e encontros motivacionais, mas deixamos de abordar o verdadeiro núcleo da questão: o compromisso, único elemento capaz de retomar para valer a verdadeira missão de vida de cada um. Os diagnósticos dos problemas são periféricos e recaem sobre processos que se julgam deficientes. Daí vem a luta pela certificação, a obsessão pela qualidade. Surgem as comissões e as consultorias, apuram-se detalhadamente os passos dos assim chamados “processos”, qualificam-se as instituições. Mas nas pessoas, nessas nunca se toca. Não que falte boa vontade em tudo isto; falta, sim, profundidade, sobrando, talvez, muita ingenuidade, pois se busca suprir no sistema o que, no final das contas, é falha individual – da pessoa, de cada um de nós – a qual deve ser sanada com compromisso e responsabilidade pessoais. Vem à lembrança certa ocasião onde me convidaram para dar uma palestra sobre planejamento e sentido da vida no mundo corporativo. Viajei com o amigo que facilitou o meu contato à empresa organizadora. O evento ocorria num resort de alto luxo, no sul do País. Enquanto alinhavava as idéias para a conferência, comentei a esse amigo que, embora eu tivesse certo domínio do tema, por estar envolvido em tarefas de formação de pessoas, pouco conhecia acerca do “outro lado”, isto é, do mundo corporativo. Ele me olhou, sorriu, e disse: “Vou te contar um segredo. Esse “outro lado” não existe. É pura fachada. Fale de coração aberto, dê o recado e deixe o pessoal pensando”. Foi um alívio. E um aprendizado que me abriu os olhos. Não parece que tudo isso se reverta fácil e rapidamente, mas a postura de Christine Collins no filme trouxe nova luz ao tema: “Não tenho missão, apenas quero meu filho de volta”. É o amor pelo concreto, pela pessoa, donde arranca a liderança das mulheres. E através dessa liderança – perfeitamente centrada na questão que lhes ocupa – é como conseguem dissecar as situações, revelar as verdades e fazer da ética um elemento doméstico e quotidiano. Exemplos? Uma infinidade. Minha professora no primário, que sem deixar de elogiar as esmolas que as crianças (com a ajuda dos respectivos pais, naturalmente) davam para os esfomeados da África, costumava sugerir antes do recreio: “Além das esmolas, dividam com o colega o lanche que vocês têm na mochila. As crianças famintas da África estão um pouco longe, mas o coleguinha está logo ai”. Ou então a minha avó, grande mulher, que quando ouvia falar de feminismo dizia: “Vamos com calma, que eu não pretendo dirigir caminhão!”. Parece que o início das mudanças para acabar com as hipocrisias corporativas poderia partir do que uma aluna me dizia, em certa ocasião: “Eu não quero que a faculdade me faça esquecer o que aprendi com a minha avó”. O amor delicado pelo caso concreto é sabedoria feminina, torna diáfano o caminho do compromisso, e até parece facilitá-lo. Faz muitos anos, elogiei uma paciente pela família maravilhosa que tinha. “Agora sim, doutor. Mas, quando nasceu meu quarto filho, o meu marido – o marido estava fora, na sala de espera de meu consultório, enquanto eu a atendia – chegava todos os dias de madrugada. Eu, sempre arrumada, a mesa posta, esperando ele chegar: ‘Você deve estar cansado, meu bem; vamos jantar’, dizia-lhe. E assim dias, semanas, meses. Um dia, na cama, pensou que eu estivesse dormindo, suspirou e disse em voz alta: ‘Sou uma besta. Não sabia a mulher que eu tinha’. Depois disso, ele nunca mais chegou tarde”, concluiu. E ainda acrescentou: “Doutor” – bateu na mesa e se aproximou de mim, dizendo: “mulher que se preza coloca o homem na linha!”. Gosto pelo concreto, dar nome aos bois. Faz algumas semanas participei de uma reunião com a Diretoria de um hospital. Problemas que surgem, equipes médicas que não acabam de se acertar, processos pouco claros. Uma das médicas – a mais jovem da equipe – pediu a palavra. Com delicadeza, mas de modo claro, verbalizou o que todos estávamos pensando, mas ninguém dizia: “O que falta é compromisso. Precisamos de profissionais que assumam os problemas, que não os empurrem com a barriga. As pessoas não querem se comprometer, e desse modo não vamos a lugar nenhum”. A reunião continuou, tomaram-se decisões, falou-se duro e, no final, a colega foi elogiada pelo Superintendente, que agradeceu a sua sinceridade que facilitou a todos o caminho. Ortega, em seu ensaio “Estudos sobre o Amor”, rende homenagem à sabedoria feminina, apostando nela para melhorar o mundo. Diz o filósofo numa passagem visionária: “Se algumas dúzias de mulheres, habilmente colocadas na sociedade, educaram sua personalidade até fazer dela um perfeito diapasão de humanidade, um instrumento de sensibilidade para formas de vida melhor, conseguirão mais do que todos os pedagogos e os políticos. A mulher exigente fará com que o coração dos homens bata em novo ritmo, despertará ideais inesperados nas suas cabeças, novas ambições e projetos, a existência toda marchará em cadência ascendente e o país onde esse feminismo apareça florescerá triunfante uma histórica primavera, toda uma vida nova”. São esses os resultados que Christine consegue na sua busca, decidida e comprometida, para recuperar seu filho Walter.Esse é o grande recado de um filme belíssimo, que é também duro e cru. Mas a esperança invencível de Christine é contagiante. Talvez porque seja mulher elegante, discreta, encantadora. Ou porque até se torna parecida com Claudette Colbert, que protagoniza o filme pelo qual Christine torce, e que acaba ganhando o Oscar. Uma homenagem de Eastwood a Frank Capra e ao cinema. “Aconteceu naquela noite” conquistou todos os prêmios do Oscar de 1934: melhor filme, diretor e atores. Clark Gable levou o seu, enquanto estendia os cobertores – as muralhas de Jericó – entre as duas camas do quarto do hotel. E também Claudette, elegantíssima e objetiva, que levanta discretamente a saia para conseguir a carona que lhe permite fugir. O Oscar que “A Troca” não levará, Clint Eastwood o credita àquele filme encantador, a todas as mulheres que Christine representa, e a esperança de uma sociedade melhor, fruto da serena liderança feminina. Esse sim é um Oscar “honoris causa”.

Benjamin P. Thomas: “Abraham Lincoln”. Aster. Lisboa. 1952. 540 pgs.

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Benjamin P Thomas - Abraham LincolnDespretensiosa biografia de Lincoln que sem adentrar-se excessivamente nos aspectos psicológicos –e Lincoln oferecia um temperamento que é um prato cheio para esses estudos- e fornecendo grande quantidade de dados, especialmente da guerra civil americana (1860-1865) oferece um perfil razoável do presidente americano. Preservar a União, manter os Estados Unidos como um país único, e garantir a liberdade constitucional para qualquer cidadão –incluído os negros- são aspectos bem destacados nesta obra. Lincoln é de fato o artífice real da abolição da escravatura nos EEUU. Um homem que desde a sua eleição (novembro 1860) até a sua morte (abril 1865, recém re-eleito) esteve envolvido no conflito da secessão que soube conduzir com liderança, mão firme, sem revanchismo, e com bondade e afeto. Um verdadeiro símbolo, com toda a razão, para o povo americano e para a história.

“Bella: O poder de fogo da família”

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Bella (2006). Diretor: Alejando Gómez Monteverde.Atores: Eduardo Verástegui. Tammy Blanchard, Manny Perez. 91 min

bella_2Quando me pedem a opinião sobre um filme que ainda não assisti, já sei que mais cedo ou mais tarde acabarei assistindo. É questão de tempo e oportunidade. Não consigo resistir; aliás, para ser franco, nem tento fazê-lo. Afinal, quem ergue a bandeira de que o cinema educa deve manter-se atento às novidades. Assim ocorreu com “Bella”. Houve perguntas e também comentários que incluíam o ator, Eduardo Verástegui, um cantor e ator mexicano que sofreu um processo de conversão espiritual e milita entre os “Pro Life”. Parece que há uma entrevista com ele, divulgada pela EWTN, a emissora da Madre Angélica, essa surpreendente freira de clausura do Alabama, que no dizer de alguns teria créditos para ser a santa padroeira dos CEOs . De fato, tive oportunidade de ler uma biografia de Mother Angélica, quando acabei me tornando seu fã incondicional – dessa mulher que alia capacidade de gestão e empreendedorismo incomuns, sob o amálgama de gigantesca personalidade espiritual. A santidade, o senso comum e a voz de comando lhe saem pelos poros. Leia mais

“Apenas uma vez”: a música que nos cura

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(Once) Director: John Carney Atores: Glen Hansard, Marketa Irglova, 85 min. Fui criado num lar onde se amava o cinema. Não o aspecto acadêmico do cinema – o amor dos cinéfilos –, mas as possibilidades que o cinema nos oferece para conhecermos melhor a vida, o mundo, as pessoas. Entendíamo-nos através de filmes, éramos corrigidos com frases de filmes, estimulados com situações e valores que os filmes – a que assistíamos juntos, muitas vezes de pijama – nos brindavam. Na minha família, o cinema era uma linguagem habitual. Hoje, quarenta anos depois, estamos todos envolvidos, de alguma forma, com temas de educação – talvez por culpa do cinema –, de tal modo que evocamos e utilizamos o cinema para formar os outros, tal qual nós fomos formados. Agora estamos entrando na quarta geração, e o cinema continua sendo um amor da família. No mês passado, tive oportunidade de estar com os meus irmãos que vivem na Europa, e vários deles me falaram de “Once” como “um filme necessário”. Consta-me que um deles organizou uma sessão familiar para assistir ao filme com meus sobrinhos, porque ao cinema – entendido como nós o entendemos – deve-se assistir em família. Voltei ao Brasil com a pulga atrás da orelha, como se diz, mas também com muito trabalho pendente, de modo que a curiosidade acabou se aquietando um pouco, antes que surgisse a ocasião de ver o filme. Mas a ocasião, finalmente, surgiu, na semana passada, quando entrei na locadora de um amigo. Aproximei-me da prateleira para ver as novidades, até que pude ler o título “Apenas uma vez”. Como estivesse sem óculos, afastei um pouco a capa do DVD para conseguir ler o titulo original. Lá estava: “Once”. Peguei-o e saí, sem prestar muita atenção no que o balconista me dizia sobre o filme. Provavelmente, algumas frases-chavão que a gente sempre interpreta com o pensamento daquele cantor de tangos: “Isso o dirás a todos…” De cara, vê-se que o filme não é bem um filme. Quer dizer, não é algo cinematográfico. Logo no início já cheira a documentário: câmara solta, sem cortes, sem primeiros planos… “O que será isto?” – perguntei-me, enquanto na tela um figurante – não parecia ser ator; pelo menos representava muito bem não sê-lo – tocava violão na rua, e agradecia as moedas que os passantes depositavam na capa do instrumento. “Não será que esse filme não passa de um videoclipe, de um mero cenário-pretexto para ‘rolar’ rocks e outras canções que a molecada gosta?” – pensei comigo, sentindo que talvez estivesse ficando velho… Acomodei-me na poltrona, sem grandes expectativas, e confesso que duvidei da recomendação familiar. Minha sintonia é outra… Leia mais

Batman – O Cavaleiro das Trevas: um líder sem férias

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(Batman – The Dark Knight) Diretor: Christopher Nolan. Atores: Christian Bale, Morgan Freeman, Michael Caine, Aron Eckart, Heath Ledger, Maggie Gyllenhal. 152 minutos.
Duas semanas em cartaz e mais de dois milhões de expectadores. Houve quem conseguisse comprar os últimos ingressos – aqueles que dão “direito” à primeira fileira e ficar com o nariz colado à tela – mas preferiu sentar-se lá em cima, no chão do corredor, para não perder o visual da estréia. Muitos jovens, alguns nem tanto, como aquele senhor que comentava entusiasmado na saída: “Você viu isso? Fantástico! Até que o ingresso a dezessete reais é ridículo. Bem que o Brasil precisava de uns quatro ou cinco batmans, principalmente em Brasília. Quem sabe dariam um jeito nessa corrupção que nos envergonha”. Fui reunindo os comentários que me chegavam nos dias que se seguiram ao lançamento do filme. Em todos os lugares, no ambiente profissional, nos hospitais onde trabalho – médicos, pacientes, funcionários – todos tinham Batman na ponta da língua. Lembrei-me de George Lucas, quando lá nos idos de 1976 contemplava a reação do público que tinha acabado de assistir a estreia de “Guerra nas Estrelas”. Parece que estava num bar, sentado, à frente do cinema. Vendo a multidão que saia vibrando, confirmou o que já desconfiava: as pessoas gostam de ver o bem e o mal convenientemente delimitados. “É como um faroeste, só que nas galáxias” – declarou à imprensa, na época. “A verdade é que todos nós gostamos que o mocinho ganhe. Leia mais

A luta pela esperança. O exemplo que nos faz sobreviver

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luta_esperanca2Cinderella Man. Diretor: Ron Howard. Atores: Russell Crowe, Renée Zellweger, Paul Giamatti. 144 minutos. Assisti a este filme já faz algum tempo. Provavelmente, um par de anos atrás. Mas nos últimos meses, por algum motivo, ele me veio à mente com insistência. Acudiam à lembrança as cenas do filme, sobretudo o título – a esperança –, que bem vale uma luta. A história lembra os filmes dos anos 30-40, aqueles que Frank Capra dirigia com seu otimismo à prova de bomba, empurrando os americanos a acreditarem no seu próprio país. Anos de depressão econômica, seguidos de guerras. O nosso filme situa-se exatamente nessa mesma época. Jim Braddock – encarnado no polivalente ator Russell Crowe – é um boxeador com futuro. Estamos no final da década de 20. Escasseiam os alimentos, também as lutas, e o nosso lutador, para sobreviver, parte para os “bicos” mal pagos das docas. O ambiente é o de sempre. Lembram-se de Marlon Brando, em “Sindicato de Ladrões”, com aquele olhar tímido? É o mesmo entorno, só que desta vez em cores. Surge uma chance, e Jim volta a lutar, porque não lhe resta outro remédio: “Agora eu sei pelo que estou lutando” – declara na roda de imprensa. “Por quê?” – pergunta um jornalista. “Leite!” – responde Jim. Luta para ganhar o sustento dos seus. Mas como sabe lutar, ama sua profissão e pensa na família. O que era obrigação transformar-se em oportunidade, e vai galgando postos até enfrentar o campeão mundial dos pesos pesados. O homem que surge de baixo, do povo, o maltrapilho de New Jersey, mostra a seus iguais – ao povo que tenta sobrevier na miséria – uma luz no fim do túnel, uma verdadeira porta para a esperança: “Se Jim Braddock consegue, talvez nós tenhamos também uma chance na vida” – parecem dizer os que por ele torcem. A imprensa faz-se eco dessas expectativas e começa a apelidá-lo “Cinderella Man” (o homem-cinderela) – título do filme em inglês.

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Antes de Partir: a alegria de fazer as opções certas na vida

Pablo González BlascoFilmes 3 Comments

(The Bucket List). Diretor: Rob Reiner. Morgan Freeman, Jack Nicholson. 97 min.

Devo confessar que já faz algum tempo que assisti a este filme.
Mas faltou-me ocasião para escrever; não encontrava o momento para alinhavar as idéias – muitas e de todo tipo – que se juntaram na minha cabeça. Aconteceu-me, no fim, o mesmo que às personagens: nem sempre se consegue fazer o que previmos. É preciso decidir, estipular hierarquias, pois a sabedoria não consiste em fazer cada vez mais coisas – a pesar de que a técnica nos faz acreditar o contrário – mas em fazer as coisas que de verdadeiramente importam.
Não as coisas importantes – afinal a importância é muito relativa – mas as que devem ser feitas. Sabedoria é, por tanto, abrir mão de muitas outras coisas que nunca se poderão fazer, para centrar-se naquelas que devem ser feitas. O universo de possibilidades que nos cerca é muitas vezes uma desculpa confortável para fugir de algumas tarefas – ações, conversas, decisões, ou mesmo saber perder tempo com um sorriso que conforta o próximo – que são nossa missão na vida. Por isso, bati o martelo e decidi escrever sem deixar passar nem um dia mais, enquanto coloquei na espera… algumas coisas ditas importantes que insistem em tomar a dianteira, e querem monopolizar o meu tempo. 

O filme é um “mano-a-mano” genial de quase 100 minutos entre dois autores consagrados. Não há perigo de contar o argumento, porque não existe como tal. Mais se assemelha a um diálogo de Platão, em versão Hollywood, com a sabedoria de Morgan Freeman no papel de Sócrates, e um prosaico, deselegante e encantador Jack Nicholson, que personifica o sofista de turno. Pura reflexão sobre o que de verdade importa na vida e, como me dizia um amigo animando-me a escrever, um filme “sem desperdício”. Impossível não se lembrar daquele Schmidt de Nicholson, que se confessa por carta com o menino que adotou na África, e não consegue ver a utilidade da sua vida que se acaba. O Schmidt precisa agora de um câncer e de um interlocutor, também com câncer, para nos brindar as reflexões que vão muito além do cômico ou do anedótico. ”Antes de partir” é o título em português da lista de pendências que os dois protagonistas querem completar numa corrida contra o “relógio” do câncer que vai tomando conta do seu organismo. Quais são as coisas importantes na vida, as que não posso deixar de fazer? Eis uma excelente colocação que serve para quase tudo: decidir e fazer o que não pode deixar de ser feito, sem distrair-se – e depois desesperar-se – com o que poderia ser feito. A vida é um leque de possibilidades, e a escolha de uma excluirá possivelmente as outras. A figura do leque de possibilidades associa-se na minha mente ao filósofo dinamarquês Kierkegaard, desde os tempos das aulas de filosofia no colegial. Bons tempos aqueles, em que se estudava filosofia com 15 anos. Não estou certo de que aprendêssemos grandes teorias, mas ao menos tomávamos conhecimento de que existiam pessoas cujo ofício era pensar, questionar-se. Mesmo que, como Kierkegaard, sofressem por isso. Hoje, temos muito que fazer e não podemos dar-nos o luxo de pensar, muito menos de nos questionar. Vai ver que de repente descobrimos que não sabemos porque fazemos as coisas, ou porque fazemos sempre o que não é importante, e ignoramos o essencial. No dia em que essa ficha vier a cair a angústia será tremenda, como a do Schmidt, e o sofrimento dos filósofos existencialistas – que ao menos tiveram a coragem de pensar no assunto – será “café pequeno” comparada à do insensato que passou a vida em piloto automático. Não temos tempo – dizemos – e quase nos convencemos. A pressa é tanta, que não paramos para colocar gasolina no carro… e fatalmente o carro ficará no acostamento, cedo ou tarde. Leia mais

O Mestre dos Mares: a inevitável solidão do líder

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mestre_maresTenho uma velha dívida com este filme. Assisti e gostei. Recomendei aos amigos, aos alunos e colegas. Mesmo aos pacientes que, sabedores do meu gosto cinematográfico solicitam, junto com prescrição de remédios, alguma medicação para o bom uso do tempo livre, para espraiar-se com fruto, para não perder o gosto por sonhar, que é uma das piores doenças que hoje nos cerca. Doença fatal que mata mesmo: liquida o indivíduo aos poucos, sugando-lhe a esperança, prostrando-o numa verdadeira caquexia de ideais. A minha dívida com Peter Weir –o diretor do filme- aumenta quando me lembro que utilizei diversas cenas de “Master and Commander” para ilustrar minhas aulas, para provocar descaradamente a reflexão. E também para produzir as crises que o pensar origina. Um velho amigo, colega no colégio e hoje diretor de cinema, me disse certa vez: “Tu montas o teu filme com as cenas dos outros; fazes uma colcha de retalhos com os fotogramas que alguém produziu para dar o teu recado”. Tinha toda a razão. Por isso a minha dívida aumenta. Bem é verdade que tenho algum crédito com Peter Weir, pela propaganda enorme que fiz do seu show de Truman, e da Sociedade dos Poetas Mortos. São versões diferentes de um tema apaixonante e duro ao mesmo tempo: a solidão do líder. O inovador, aquele que comanda a mudança para novos paradigmas, chega um momento em que se sente sozinho. Esse é o tema, embrulhado num filme de aventuras –com piratas, abordagem de navios, canhões e tempestades- situado no início do século XIX. Russell Crowe é o capitão Jack Aubrey, comandante do navio britânico Surprise, que persegue o Acheron, barco emblemático da frota Napoleônica. Paul Bettany é o Dr. Stephen Maturin, um médico culto, naturalista, que combina a perfeição a ciência e o humanismo. A mesma dupla de “Mente Brilhante” nos oferece aqui um magnífico mano a mano repleto de valores. Reflexões nos momentos difíceis, diálogos espirituosos, desavenças, crises, amizade verdadeira. E música: encantadores duetos ao anoitecer, na cabine do comandante que toca violino, e o contraponto do médico com seu violoncelo. Para liderar, e também para clinicar, é preciso freqüentar as artes, entender o ser humano na sua expressão mais genuína, permitir-se conviver com as próprias emoções. Afinal, liderança e medicina, são também artes que devem ser construídas. Leia mais

Copiando Beethoven sem segredos: O poder do eterno feminino

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Traduzir o título original de um filme é uma tentativa de torná-lo palatável para o público ao qual se destina. Essa deve ser a intenção, em todas as culturas. Porém, é impressionante o que uma tradução infeliz do título é capaz de fazer com um filme: pode criar anticorpos “a priori”, indispor as pessoas para assisti-lo, enfim, pode até assassinar a fita. Basta lembrar um dos exemplos mais claros: “A Noviça Rebelde” com que foi batizado-destruído o magnífico musical “The Sound of Music”. O episódio do convento é completamente periférico na trama do filme, além do que a tal noviça –a insuperável Julie Andrews- nada tinha de rebelde, muito pelo contrário.

Quando notou que o mundo externo não era cor de rosa e teria de enfrentar desafios, tentou desesperadamente encerrar-se no convento. Ainda bem que a Madre Superiora –traquejada na seleção de vocações- fez-lhe ver que as pessoas se enclausuravam não por medo ao mundo, mas por missão de vida. Estas paredes –diz-lhe- não são feitas para albergar os que têm medo de enfrentar o mundo. E a continuação, a magnífica canção “Climb every mountain”, um empurrão fantástico para que a noviça –que não era tal- se decidisse a enfrentar os desafios da sua verdadeira vocação, no mundo. Pessoalmente, sempre tive uma enorme simpatia por essa Madre Superiora, que tem a coragem de colocar cada um no seu lugar: um exemplo, diríamos em linguagem moderna, de coaching eficaz, que facilita o plano de carreira, situando as pessoas diante da missão que lhes corresponde, atenta aos dons que cada um tem. Confesso que já cheguei a pensar se pessoas assim, peritas em coaching vocacional, não seriam uma ajuda inestimável para a academia universitária, na hora de selecionar seus candidatos no vestibular, nas diversas carreiras e, sem dúvida, na medicina que tão de perto me atinge. Pessoas que conseguem medir o que realmente interessa –a vocação- e que teimamos em dizer que não é possível avaliar nem medir. Mas isso já seria outra crônica. E outro filme, não o que nos ocupa.

O Segredo de Beethoven não existe. O que sim existe é alguém que copia –reproduz, passa a limpo- as anotações do compositor que cria a música. Algo razoável quando se repara que não havia fotocopia, nem computador, ou recursos gráficos disponíveis para essa função. Por isso, o título original -“Copiando Beethoven”- assinado por uma diretora polonesa (Agnieszka Holland) que já tem em seu currículo um Jardim Secreto, que continha o segredo do amor que anula o egoísmo. Mas com Beethoven não há segredo nenhum. Tudo é claro, transparente, direto. E muito feminino, na feição do filme, e nos efeitos que o mesmo provoca.
A jovem Anna Holtz, notável estudante do conservatório é enviada para ajudar o Maestro e copiar suas partituras. Beethoven, que tem uma merecida reputação de monstro, não tolera receber uma mulher de 24 anos para ajudá-lo, uma principiante delicada e tímida, que mora num convento de freiras. O choque é inevitável, Anna não se encolhe, demonstra sua competência, conquista o Maestro que, com o tempo não consegue prescindir dela. Cria-se um amor possessivo, peculiar, entre o professor e a discípula, que rende uma sinfonia de cenas encantadoras, onde a evocação de A Bela e a Besta se impõe. Beethoven envolve Anna com a música, que Anna entende e chega a ouvi-la tal como o Maestro a escuta. O amor gera ciúmes, reações violentas do músico, mas a postura elegante, discreta, eficaz – tremendamente feminina!!!- da jovem, dobra o orgulho do Maestro, que se ajoelha e chora como criança, soluçando pelo colo da mãe. Mais detalhes somente vendo. O excesso de descrição acabaria por embaçar a beleza do contexto. Vale dizer que a interpretação das personagens é magnífica. Anna é tudo o que vemos, ou o que queremos sonhar que fosse. E Beethoven, é um Ed Harris, que desapareceu, e nem lembramos quem seria o ator, tal a força da personagem e a maestria interpretativa.

O tal segredo que não existe rendeu variedade de opiniões entre o público. Algo parecido ao comentário dos críticos de touradas –para os que as apreciam, é claro- quando o público não é unânime na hora de julgar. Diz-se, no argot das touradas, que houve “divisão de opiniões”. Com Beethoven, o filme e o segredo aconteceu algo semelhante. De um lado, houve quem criticou o filme, porque não era histórico, e porque Beethoven era mostrado como um energúmeno. E com isso, e os anticorpos gerados pelo segredo, houve quem chegou a desaconselhá-lo como inconveniente. Por outro lado –e daqui a minha perplexidade e o fazer questão de comentar este filme- recebo a notícia de que duas senhoras da minha família, octogenárias, dessas que não vão ao cinema “por que é uma vergonha as coisas que se mostram, e não é mais como antigamente” são convidadas para uma sessão e saem do filme encantadas, iluminadas. Fosse pouco, uma colega, médica e professora, diz-me que depois de ver o filme, decide levar no fim de semana seguinte à mãe viúva, e algumas amigas dela –da mãe, se entende. Imagino que no carro –como dizia outro amigo também octogenário, já falecido- juntaram-se mais de 300 anos, para assistir Anna Holtz copiando Beethoven, com sucesso total, empolgando as boas senhoras. Por que –pergunto-me- esta variedade de reações, esta divisão de opiniões?
Um amigo músico, afirma que a personagem de Anna Holtz é fictícia. Provavelmente não existiu, ao menos como o filme a retrata. Mas o que é ficção mistura-se com a realidade. Beethoven era mesmo um temperamento intratável – por difícil que seja admitir isto de alguém que conseguiu criar o que ele fez- não brilhava pela sua ordem, e parece que a higiene não era o seu ponto forte. Há quem diga que passava os invernos embrulhado num cobertor…..compondo, naturalmente. Que o Maestro foi se tornando surdo e provavelmente não ouviu as notas da sua Nona Sinfonia é também fato. E como se arranjou para reger a Nona –se a cena que encantou todas as senhoras, Anna regendo nos bastidores, não existiu- é algo que os entendidos poderão elucidar. De qualquer forma, um filme é um ensaio de arte, e não uma aula de historia. E misturar ficção com realidade não é exclusivo deste filme; é, sim, algo extremamente comum. Por que, então, as críticas dos puristas? Vai ver que o que é de fato histórico – o mau caráter de Beethoven – incomoda, ou até decepciona e se prefere colocar tudo por conta da imaginação da diretora. Afinal, por colocar um exemplo, uma coisa é reputar como falsa a personagem de Aquiles em Tróia que é um monumento à vaidade, e mais parece um modelo de Armani do que um herói, e outra ter que admitir que um gênio como Beethoven possa ter sido intratável de fato. As críticas de alguns misturado com os elogios das senhoras octogenárias me confortam. Sempre penso que estaslinhas, onde interpreto livremente as idéias que os filmes me provocam, não são uma tentativa de explicar o que o diretor quer dizer, uma tradução à linguagem popular os termos Cult do cinema. São, nem mais nem menos, o que me ocorre pensar a propósito do filme, reflexões que o cinema desperta. E como são reflexões em voz alta, escrevem-se para compartilhar com outros que, certamente, terão diferentes pontos de vista, e agregarão novas reflexões. Daí a educação da afetividade que o cinema nos brinda como ocasião única. Por isso, misturar ficção com realidade –como misturamos nossas reflexões com as intenções do diretor do filme- está, para mim, plenamente justificado.O molde e os efeitos do filme têm uma assinatura feminina. Têm poesia, beleza, sonhos que traduzem anseios de realidade. O conjunto agrada como o perfume da flor. A imagem não é minha, mas de Ortega que nos oferece nos seus Estudos sobre o Amor, um dos mais belos ensaios sobre o feminismo. A mulher, diz, muda o ambiente, quieta, sem aparentemente fazer nada, como o clima muda o vegetal, ou a rosa perfuma o entorno. Não faz nada, fazendo-o tudo. E, no mesmo escrito, encontramos uma possível explicação de por que o Maestro não consegue prescindir de Anna, torna-se dependente dela. Afirma o filósofo que uma das supremas missões da mulher é exigir a perfeição no homem, tirar dele o seu melhor. E o homem, que pensa dominar a situação, é dominado –guiado, promovido- pela idéia que e a mulher tem dele, e busca corrigir-se para agradá-la, adequando-se. Um sorriso, ou uma reprovação da mulher, tem efeito formador sobre os homens, que saberão encontrar melhores estilos de vida deste modo. Tudo isto é aquilo que sabemos bem: um homem descuidado –nos modos, no vestir, no estilo- faz-nos suspeitar que careça de uma mulher que lhe coloque na linha. O tema não é novidade, e filósofos e escritores o exploram à vontade. Naill Williams, num delicioso romance irlandês (Quatro Cartas de Amor) afirma que são as mulheres as que criam os maridos. Assim, uma vez dispondo da matéria prima –o rapaz do qual se enamoram- começam os quarenta anos de trabalho constante para fabricar o homem com quem podem viver. Chesterton, com seu humor inigualável diz que a mulher representa a saúde mental no lar, o local onde a mente tem de regressar depois das excursões pelas extravagâncias. E reconhece que para tanto, deve ser uma verdadeira equilibrista, protagonista de um ofício generoso, perigoso e romântico. Voltando ao filme, e à nossa estudante do conservatório que possui estes predicados. Mesmo que Anna Holtz seja fictícia, não o são estas considerações. Talvez por isso a sua figura encante as senhoras octogenárias, perdidamente femininas. Contam que a mãe de Pedro Almodóvar chegou a lhe dizer um dia: “Meu filho, com esses filmes que você faz, eu nem tenho coragem de conversar com as vizinhas”. Talvez isto seja lenda, pura maldade, mas não há como negar que os comentários das mães carregam doses enormes de verdade e de bom senso. Cabe ao Almodóvar ver como facilitar o trabalho da mãe dele, para que se enturme com as amigas. Da minha parte penso que quando a minha mãe e a minha tia, -as damas octogenárias familiares de quem falei- saem do cinema transformadas, não posso menos de recomendar o filme, sem nenhuma restrição, convicto de que, no mínimo, serão momentos deliciosos, de tremendo bom gosto. O Segredo de Beethoven (Copying Beethoven). Dir: Agnieszka Holland. Ed Harris, Diane Kruger, Nicholas Jones. 104m

À Procura da Felicidade: os sonhos que nos fazem viver sem medo

Pablo González BlascoFilmes 1 Comments

Desta vez foi um amigo, educador com experiência e muitas horas de vôo, quem deu a sugestão. “Assisti com os alunos um filme ótimo, pensei em você. Não sei, escreva algo assim como… sem medo de ser feliz. Estamos precisando, meu caro, e muito. A juventude anda travada”. Arquivei o email, passei para o próximo e pensei: estamos ficando velhos. O meu amigo e eu. Esses diagnósticos sobre a juventude é filme que já vi antes. Mas, de repente, parei. Voltei ao email na pasta de pendentes, e reli o comentário. Na verdade, dizer que a juventude anda mal, não é novidade, é papo de velho, sim. Mas o sinal está trocado. Os velhos criticam a falta de prudência da juventude, avoada, inconsciente, rebelde sem causa, desde os tempos do saudoso James Dean. Mas travada –com medo- é algo novo. São os velhos os que colocam limite aos desvarios da juventude, em versão LSD, Maio 68, seja lá o que for. Agora parece que a juventude é quem nasce com limites, vem travada de fábrica, e cabe aos mais experientes empurrá-los. O mundo às avessas. Um fenômeno que merece reflexão. Will Smith é Chris Gardner, um “self-made-man”, que acumula derrotas e insucessos, mas faz questão de não se conformar, e acaba triunfando. Os tropeços são para Gardner alavanca para novos empreendimentos. Diante de um degrau, muitos tropeçam, caem, e choram. Alguns, os inconformistas, sobem no degrau e visualizam o mundo com outra perspectiva. Não tem medo de ser felizes; vão atrás da felicidade, em verdadeira procura, perseguem-na sem trégua, como aponta o sugestivo título original em inglês. Talvez seja isto o que o meu amigo sugeria: estar travado é não perseguir a felicidade. É conformar-se com o que vem em monótona passividade. Ou, talvez é procurar ser feliz pelos caminhos errados, quer dizer, contentar-se com uma caricatura de felicidade que, naturalmente, desbota com o tempo. O que seja a felicidade é assunto intrincado, filosófico, e certamente não é o que o filme se propõe. Mas é bom saber de que vai o tema, pois não adianta correr atrás de algo que se desconhece. Neste mundo globalizado a comunicação é quase instantânea, e a rapidez de movimentos atingiu níveis nunca antes vistos. Mas não basta correr se o caminho não leva ao objetivo previsto. Já dizia Agostinho: “Bene curris, sed extra viam”. Quer dizer, corres bem, com uma Ferrari talvez, mas fora do caminho. Penso que o conselho do nosso sábio aplica-se perfeitamente aos nossos cibernavegadores globalizados do século XXI.
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