O SHOW DE TRUMAN
The Truman Show. Diretor: Peter Weir. Jim Carrey, Ed Harris, Laura Linney, Noah Emmerich, Natasha McElhone. 110 min. 1998 USA.
Truman é uma criatura do seu tempo, ou melhor, do nosso tempo, pois somos nós os que a criamos. Desde o seu nascimento, sem lhe pedir licença, já é parte de um projeto. Uma vida sem nenhum direito à intimidade, onde o que conta é o sistema e o circo que é montado para albergar o cotidiano de Truman que nem desconfia ser o ator principal desse grande teatro. Transmitido sem interrupção, 24 horas no ar, para os 5 continentes, onde as pessoas estão pendentes da vida de Truman, muito mais do que da própria. Até parece que a própria vida careceria de sentido se não tivesse o simpático Truman na TV –que em rotina encantadora cumprimenta o mundo, pensando apenas cumprimentar o seu vizinho. Bom dia, boa tarde e, caso não veja vocês, boa noite.
Peter Weir, diretor australiano, tem gosto e sabe tratar, os temas que atingem a pessoa e a enfrentam com um sistema que abdica da liberdade. Enaltece o homem que não abre mão do seu compromisso vital, e que consegue extrair do seu interior riquezas que nem mesmo ele sabia possuir. Baste lembrar a Sociedade dos Poetas Mortos, A Testemunha, Gallipoli e O Mestre dos Mares
O Show de Truman é um ensaio sobre as possibilidades da liberdade humana. O bom Truman, inofensivo e dócil, marionete do sistema que rende milhões em publicidade e recorde de audiência decide, de repente, exercer a sua liberdade, ser “espontâneo”. Uma atitude que não tinha sido prevista pelos criadores do show, pelo megalomaníaco controlador do sistema. Truman suspeita que algo não anda bem nesse mundo de faz de conta onde nada acontece. Entenda-se, nada ruim, já que tudo é previsto, organizado, contratado, projetado. Quando o ser humano não enfrenta dificuldades desconfia que esteja sonhando. É como aquele velho ditado: “se depois dos 50 anos, acordas de manhã e não doe nada, provavelmente estás morto”. As dificuldades e, sobretudo, os atritos no trato com os nossos semelhantes, que pulem as arestas do temperamento, são coisas de ordinária administração. E nessas dificuldades e desafios é onde a pessoa cresce e se constrói realmente. Uma vida que visa apenas evitar dificuldades é irreal, torna-se aborrecida.
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