Khaled Hosseini: “O Caçador de Pipas”

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Khaled Hosseini: “O Caçador de Pipas”. Ed. Nova Fronteira. 2003. Rio de Janeiro, 365 pgs.

O caçador de pipas     Por alguma razão, que nunca tive muito clara, sempre me resisti a ler best-sellers. Talvez uma certa alergia ao gosto massivo por novidades que nada tem a ver com qualidade. A culpa, evidentemente, nunca é da obra, do livro, do filme. Mas sim  do ambiente que gravita sobre a novidade em questão, sem tomar consciência do por quê. Algo parecido com a famosa maçã de Newton, que cai sem saber exatamente os motivos; somente um observador atento, é capaz de desentranhar as razões e os mecanismos da queda.

     Agora vi a maçã cair, e entendi um pouco melhor a minha repulsa pela novidade. Aconteceu-me numa das reuniões literárias de um projeto de longevidade –um modo elegante para falar das atividades culturais com a terceira idade- ao qual sou convidado como moderador, num hospital em São Paulo. O livro que tinha sido sugerido é este que nos ocupa. Comprovei que todos os presentes já o tinham lido –tempo atrás, quando era recorde de vendas. Eu tive de ler expressamente para esta ocasião, pois não o fiz na época do boom editorial. Gostei, tomei notas, enquanto me perguntava pelos comentários que viria ouvir na reunião literária.

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Educando as emoções para uma atuação ética: construindo o profissionalismo médico

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Os dilemas éticos que surgem na prática diária e o profissionalismo que se requer para atender o paciente são desafios que requerem uma visão ampla dos cuidados médicos. O modelo biomecânico baseado na especialização e os códigos de ética resultam insuficientes para apresentar as respostas adequadas. Faz-se necessária uma formação médica mais ampla, criativa, universal, humanista. Por outro lado, os dilemas éticos se apresentam frequentemente embrulhados em emoções: as do paciente e as do profissional que cuida dele. Trabalhar as emoções – educá-las – é uma necessidade imperiosa na educação médica. As humanidades – literatura, música, cinema, narrativas – são um recurso de utilidade para educar as emoções, e promover a empatia, que é a pedra angular do profissionalismo médico e do comportamento ético. No presente artigo os autores descrevem as experiências educacionais com vários recursos humanísticos na educação de estudantes e residentes de medicina. As emoções que estas experiências despertam devem ser transformadas pela reflexão em vivências que geram atitudes capazes de construir atitudes éticas e edificar o profissionalismo. As humanidades são como os hormônios que catalisam o pensamento e humanizam a prática médica – Sir William Osler

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Michel Barlow: “Diario de un profesor novato”

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Michel Barlow: “Diario de un profesor novato”. Ed. Sígueme. Salamanca. 1984. 160 pgs.

Diario de un profesor novato     Foi o meu irmão Pedro, um apaixonado pela educação, quem me recomendou este livro. Aliás, não foi uma recomendação, mas um par de folhas manuscritas que me enviou por correio com umas citações deste autor;  li, gostei, e guardei no meu fichário. Muitos anos depois, revisando anotações para preparar uma conferência, deparo-me com estas fichas. Pedro não está mais entre nós, mas sei que continua nos olhando do Céu e supervisionando nossos métodos educacionais –a educação é uma paixão que tomou forma epidémica na família, forma benigna entenda-se. Imediatamente adquiro o livro pela Internet numa rede de sebos de livros em espanhol. Não sei se são os bastidores –o making-off, diríamos em linguagem moderna- que acabo de relatar, ou o livro em si, mas o fato é que não me lembro de ter anotado tantas ideias na leitura de um livro tão curto. Uma desproporção saudável. Traduzo livremente do espanhol, com toda paz, sabendo que o original é francês, de modo que o conteúdo deve estar preservado.

     O diário são as anotações de um jovem, ainda estudante universitário, que desempenha a função de professor durante um par de anos numa aldeia do interior da França, no início dos anos 60. Lá encontra o seu desafio, um conjunto heterogêneo de alunos que deve guiar através do aprendizado da língua, da literatura, da cultura. “Uma massa não se transforma espontaneamente numa comunidade. Essa é a tarefa do professor: conseguir a unidade em trinta encantadores e anárquicos estudantes. Não se trata de impor a disciplina militar ou o silêncio do cemitério. Mas exige um esforço que não é simples. Assim costumo dizer: A escola não é um quartel. Meu papel consiste em ajudar que vocês se cultivem a vocês mesmos. E cultivar-se não é encher a cabeça de conhecimentos, mas encontrar a fibra do espírito. Para isso o método é colocar-se em contato com os homens, despertar os próprios pensamentos no contato com os outros.  Formamo-nos através das pessoas com as quais nos encontramos.”
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A 100 Passos de um Sonho: O doce paladar da simplicidade da vida

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The Hundred-Foot Journey (2014).  122 min  Diretor: Lasse Hallström.  Helen MirrenOm PuriManish Dayal.

A 100 Passos de um Sonho - capaA recomendação chegou-me de uma velha amiga; uma professora americana, com quem divido preocupações e projetos no mundo da educação médica. Foi durante um Congresso em Milão, onde ela coordenava um workshop que ostentava um título desafiante: “Fortalecendo o académico do século XXI”. Os outros participantes do painel apresentaram os planos de integração global da AAMC (a associação que reúne todas as faculdades de medicina americanas), intercâmbios, publicações, formação continuada. A parte que a mim correspondia no workshop para revigorar o académico do futuro ficava por conta …..do cinema. Os americanos adoram ver como utilizamos seus produtos de Hollywood para ensinar relações humanas, empatia, ética, e todos esses valores que cercam o mundo formativo do médico, integrados numa palavra mágica que está na moda: profissionalismo. Uma dimensão tão necessária como difícil de ensinar, onde as humanidades e as artes –o cinema, sem dúvida- tem uma contribuição necessária.Leia mais

Nuccio Ordine: “La utilidad de lo inútil. Manifiesto”

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Nuccio Ordine: “La utilidad de lo inútil. Manifiesto”. Acantilado. Barcelona. 2013. 172 pgs.

Edição @ 9/mar/2016: O livro foi traduzido ao português e é oferecido pela editora Zahar.

La utilidad de lo inútil Manifiesto     Como se indica junto do cabeçalho, isto mais do que um livro é um manifesto. Uma declaração, um statement. O título –tema sedutor, com o qual venho me relacionando em longo namoro- foi o que me levou a comprar o livro, na versão espanhola (não me consta que exista tradução ao português).  Pouco me importava se tratava-se de um protesto assertivo ou de um raciocínio lógico: o assunto da cultura –da falta dela, se entende- é como um imã sugestivo que me atrai incondicionalmente. É mais, deixo-me atrair, agarro-me a ele, seguindo aquele conselho de Ortega de que á cultura é o que nos salva do naufrágio vital. Mormente nesta época de avanços tecnológicos impensáveis, verdadeiros Titanics que navegam para o golpe fatal por desprezar a inutilidade de um iceberg que surge no meio do percurso.

A declaração situa o abre alas do tema com clareza. “A lógica do benefício mina na base as instituições (escolas, universidades, centros de pesquisa, museus, bibliotecas) e as disciplinas (humanísticas e científicas) cujo valor deve coincidir com o saber em si, independentemente da capacidade de produzir ganâncias ou benefícios práticos”. E tudo isto, para que serve? O que eu ganho com isto? Pergunta que, quando não explícita –até fica mal dizer assim, de cara, o que no fundo estou pensando, quanto levo eu com tudo isto- nunca deixa da pairar no ambiente. Esse questionamento é já cortina que embaça a beleza da vida, que faz perder o encanto do viver. “É doloroso ver homens e mulheres empenhados numa insensata carreira à terra prometida do benefício, na que tudo o que lhes rodeia –a natureza, os objetos, os outros seres humanos- não despertam nenhum interesse. O olhar fixo nesse objetivo não permite entender a alegria dos pequenos gestos quotidianos nem descobrir a beleza que pulsa nas nossas vidas: um por de sol, um céu estrelado, a ternura de um beijo, a eclosão de uma flor, o voo de uma borboleta. Porque, frequentemente, a grandeza se percebe melhor nas coisas mais simples”.
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Guimarães Rosa: “A hora e a vez de Augusto Matraga”

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Guimarães Rosa: “A hora e a vez de Augusto Matraga” (Sagarana). Liv. Jose Olympio. Rio de Janeiro, 1958

A-hora-e-a-vez-de-augusto-matraga     Dando sequência aos livros “sob encomenda”, esta vez toca glosar à conhecida obra de Guimarães Rosa. O cenário foi um clube de leitura incluído num projeto de longevidade liderado por um hospital de São Paulo onde trabalhamos. Promovem-se atividades físicas e intelectuais -e naturalmente prevenção em saúde- para pessoas da terceira idade. Qualificação esta –a de terceira idade, se entende- que me desgosta, não apenas porque devo estar próximo a ser incluído nela, mas porque não quer dizer absolutamente nada. Afinal, o que conta é a vontade de viver e a sabedoria com que se gasta a vida, a idade é apenas um detalhe. Ai está o nosso Augusto Matraga que é um bom exemplo de que a sabedoria –encontrar a hora e a vez de cada um- não tem idade.

     Tinha lido o livro anos atrás. Mais de uma vez. O resumo que minha mente arquivava era algo assim como “uma apologia da mansidão” unida à aquela frase inesquecível: “P’ra o céu eu vou, nem que seja a porrete!”  Esquecera os detalhes –que agora pude saborear novamente- mas no meu íntimo, a historia do jagunço estava atrelada à passagem bíblica que louva o homem paciente “que por dominar o seu ânimo vale mais do que o conquistador de cidades”. O homem paciente;  mas decidido e focado: “Eu vou p’ra o céu, e vou mesmo, por bem ou por mal. …..E a minha vez há de chegar….”Leia mais

G.K. Chesterton: “Ortodoxia”

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G.K. Chesterton: “Ortodoxia”. Ed Mundo Cristão. São Paulo. 2007. 263 pgs.

Chesterton - Ortodoxia     Desta vez foi sugestão de um amigo incluir um capítulo de Ortodoxia na nossa reunião mensal onde tratamos temas de atualidade.  Mais do que uma reunião é  uma conversa com troca de impressões: aquilo que os intelectuais denominavam tertúlia, logicamente com café incluído.  E como ler um capítulo implica situá-lo no contexto, debrucei-me novamente sobre o clássico de Chesterton.

     Longe de mim fazer aqui um resumo desta obra que é a trajetória biográfica e de conversão do escritor inglês. Se não se deve isolar um capítulo, menos ainda pode se apresentar uma versão reduzida deste importante escrito. Os conversos ingleses são assim: quando entendem que devem justificar –para o mundo e, principalmente, para eles mesmos- sua mudança de rumo ao encontro com a fé, escrevem uma obra seminal: basta lembrar a Apologia pro Vita sua, do Cardeal Newman. E, em outro sentido, o De Profundis, de Oscar Wilde. Por tanto, nada de resumos; apenas um modesto comentário.

     O tom irônico e sincero de Ortodoxia é introduzido no prefácio desta edição. Lá se comenta que certa vez o jornal London Times pediu a alguns escritores que respondessem à pergunta: “O que é há de errado com o mundo?” Chesterton enviou a resposta mais sucinta. “Prezados Senhores: Eu. Atenciosamente. G.K. Chesterton. Este é o perfil do escritor inglês, e o seu propósito: vamos corrigir o que está errado comigo, sem gastar energias em criticar os outros.

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Machado de Assis: Memórias Póstumas de Brás Cubas

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Machado de Assis: “Memórias Póstumas de Brás Cubas”. Abril. São Paulo, 1971. 173 pgs.

Memórias póstumas de brás cubasOs fóruns de humanismo com universitários –essa metodologia tão antiga, que parece estar sendo redescoberta, a formação pela leitura dos clássicos- me conduziram até Machado de Assis e seus personagens maravilhosamente perfilados. Seria interessante recolher aqui os comentários dos jovens universitários, que surgem como faíscas no encontro de Brás Cubas com a própria reflexão. Mas não é caso, até porque é processo que cada um deve experimentar de modo pessoal e intransferível.

Faíscas que podem provocar um incêndio, quando há disposição interior para refletir, e espelhar o próprio atuar no gabarito preciso que o clássico brasileiro nos oferece. Quer dizer, quando não se deixa adormecer a consciência na sonolência de ir tocando a vida. A advertência vem da própria personagem em revisão acurada da vida que levou. “Preferi dormir, que é um modo interino de morrer”.  O adormecimento requer conforto suficiente para evitar que os incômodos da consciência cutuquem e nos despertem para a realidade. “Virgília era o travesseiro do meu espírito, um travesseiro mole, tépido, aromático, enfronhado em cambraia e bruxelas. Era ali que ele costumava repousar de todas as sensações más, simplesmente enfadonhas, ou até dolorosas(…)Escrófula da vida, andrajo do passado, que me importa que existas, que molestes os olhos dos outros, se eu tenho dois palmos de um travesseiro divino, para fechar os olhos e dormir? (….)Para mim era aquilo uma situação nova do nosso amor, uma aparência de posse exclusiva, de domínio absoluto, alguma coisa que me faria adormecer a consciência e resguardar o decoro”.

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Uma Viagem pela Espanha: O Grupo Maravilha!

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O objetivo central da viagem estava bem definido: assistir à Beatificação de D. Álvaro del Portillo que teria lugar em Madrid, no dia 27 de Setembro de 2014. E assim foi. Mas, sem perder o foco da razão principal que agregou este grupo formidável, surgiu a oportunidade de visitar vários locais na Espanha central e, principalmente, de viver experiências inesquecíveis. De amizade, de companheirismo, de alegria e bom humor e, naturalmente, um mergulho cultural de alta densidade. As fotos que aqui se recolhem são apenas uma amostra destes dias inolvidáveis. As lembranças mais importantes –bem sabemos disso- não estão plasmadas nas imagens, mas as guardamos todos na cabeça e no coração. Foi um prazer imenso participar do grupo MARAVILHA.

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José Orlandis: “História breve do Cristianismo”

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José Orlandis: “História breve do Cristianismo”. Rei dos Livros. Lisboa. 1989. 200pgs.

A minha admiração pelo Professor Orlandis vem de longe. Homem de vasta cultura, historiador profundo, possui uma caraterística rara entre os que se aventuram a contar-nos a História: uma surpreendente capacidade de síntese. Orlandis consegue, mais uma vez, traçar em menos de 200 páginas a trajetória do Cristianismo. Seu relato, sucinto, preciso, funciona como o arcabouço que firma as linhas mestras do percurso da Igreja de Cristo. É como um esqueleto que define o perfil principal que depois, por conta do gosto e das possibilidades de cada leitor, poder-se-á preencher com estudos mais aprofundados, monografias, biografias específicas, e obras de maior porte. Mas as vigas de sustentação são essenciais para entender o conjunto do tema. A sua descrição ágil lembra os traços desses desenhistas admiráveis que com quatro riscos esboçam o perfil inconfundível do sujeito contemplado.

Algumas semanas atrás, após uma longa conversa com universitários sobre temas históricos, alguém perguntou-me qual seria o livro certo para se aprofundar no tema que tínhamos tratado. Meu conselho foi direto: “Leia um bom manual que desenhe o tema geral, o arcabouço. Depois podes partir para boas biografias –sempre um modo ameno de aprender Historia da mão dos personagens que a construíram. Mas, primeiro, um manual com crédito, desses que levam no título breve história de…”

Após a leitura deste pequeno grande livro, comprovo que o meu conselho foi certeiro. Orlandis desenha de modo esquemático o itinerário da Igreja. No plano doutrinal arranca dos tempos apostólicos e das primeiras controvérsias doutrinais que originaram os Concílios ecumênicos, passeia pelo ambiente que faz surgir as heresias, os cismas de Oriente e de Ocidente, para chegar na Reforma Protestante, e no Modernismo. Aborda sucintamente, mas com precisão admirável, as relações da Igreja com o poder civil, que gera a aliança da Igreja com o império que a amparava. Primeiro o Carolíngio, depois o Sacro Império Germânico, os Habsburgos espanhóis, e a França. Os Padres da Igreja, Santos, Imperadores e, naturalmente, os Papas são os figurantes deste magnífico índice ampliado e comentado da História da Igreja.

Nada é deixado de fora, tudo é contemplado. E tem o cuidado de advertir os temas que propositalmente são apenas citados, porque o espaço não permite maior extensão. Relato sóbrio, denso, completo. Um excelente perfume contido, como de costume, num pequeno recipiente. Uma leitura necessária e prévia a qualquer mergulho histórico de maior porte. Um recurso imprescindível –cito palavras textuais- “para que qualquer pessoa com o nível cultural comum aos homens de hoje, possa fazer uma ideia clara de como foram e do que representaram vinte séculos de História do Cristianismo”